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“As explicações são muito simples, os valores é que assustam”, diz advogado do Padre Robson

“As explicações são muito simples, os valores é que assustam”, diz advogado do Padre Robson

access_time 4 anos ago

Pedro Paulo de Medeiros não explica repasse financeiro indireto para irmã do cliente, mas garante que todas as transações financeiras consideradas suspeitas são na verdade legais

Advogado criminalista Pedro Paulo de Medeiros (Foto: Reprodução)

 

As doações na TV Pai Eterno eram para a construção do novo templo ou para investimentos?

Eram pedidas para a Associação (Filhos do Pai Eterno), a Afipe. A Afipe recebia esses valores e os aplicava, seja para a construção da Basílica, que nunca parou, seja para aquisição da TV Pai Eterno, seja para aquisição de rádios, construção de igrejas, ajuda a asilos, necessitados. Quem acredita que a Afipe foi criada só para construir a Basílica é porque não conhece a Afipe ou o seu estatuto. A Afipe foi criada para evangelizar e uma dessas formas é a construção da Basílica e não exclusivamente a construção da Basílica.

Os fiéis que faziam doações sabiam que o recurso era utilizado para investimentos em fazendas, mineração e imóveis?

Eu tenho certeza que todos tinham absoluta consciência que o dinheiro era todo utilizado pela Afipe para evangelização. Agora, não posso lhe dizer, se todos os fiéis – e são milhares de fiéis – tinham a exata noção de todos os atos de gestão diários do presidente da Afipe (padre Robson). Mas todos tinham, certamente, total consciência que o dinheiro era doado para fazer o que fosse melhor para evangelizar e isso foi feito integralmente.

Por que a irmã do padre Robson recebeu R$ 400 mil transferidos da conta de um funcionário da Afipe, no mesmo dia que ele recebeu R$ 400 mil da própria Afipe?

Nós não tivemos acesso ainda à documentação para saber do que se trata este valor, qual o motivo desta transferência. Portanto, eu não consigo lhe dizer como houve esta transferência e sequer se houve.

Por que a transferência dos R$ 400 mil não foi feita na conta do padre Robson em vez de passar por um terceiro?

Como lhe disse, eu não sei te informar detalhes do por que isso aconteceu, porque não tenho a documentação, mas certamente a explicação é absolutamente razoável e não há problema algum em explicar isso, até porque repito: 400 ou 1 real, ou mil reais, ou um salário mínimo, R$ 400 mil é muito dinheiro, mas seja qual for o tamanho dessa transferência, nada de ilegal aconteceu. Nenhum real saiu da Afipe.

Se esse foi o caminho necessário dentro da burocracia formal, a explicação certamente será dada. Eu não sei hoje lhe dizer até porque não tenho a documentação, mas se precisou ser feito assim é em razão de alguma exigência legal. Mas tenha certeza, o dinheiro não foi utilizado para um fim que não seja trazer bens ou ativos para Afipe.

O que explica a funcionária da Afipe, Celestina Celis Bueno, que ganhava cerca de R$ 1,8 mil por mês, se tornar sócia de uma rádio que recebe recursos da Afipe e receber R$ 4 milhões dessa rádio em um período de 3 meses em 2015?

As explicações são muito simples. Os valores é que assustam. A dona Celestina é integrante da Afipe, uma pessoa de confiança da Afipe e do padre Robson. Quando foi comprar uma das rádios – e a Afipe tem várias para evangelização – não pode ser passada a cota diretamente para a Afipe. Temos de colocar as cotas da empresa no nome de uma pessoa física, e depois de um período de latência de alguns anos, aí sim isso é passado para a pessoa jurídica que é a Afipe.

A dona Celestina então disse: “eu quero ajudar a Afipe a adquirir essa radio”. “Dona Celestina, a gente vai passar a rádio para o nome da senhora e depois para a Afipe”. “Claro, sem problema algum”. E assim foi feito.

Por que dinheiro foi para o nome da dona Celestina? Porque a Celestina é quem era formalmente a dona das cotas dessa rádio, até que passasse o período de latência e a rádio viesse para a Afipe. Aí então, tinha de fazer distribuição de lucro. Quem era a verdadeira dona? A Afipe. Quem estava legalmente como dona? A dona Celestina. A pessoa jurídica, dona da concessão, que era a rádio, de que a Dona Celestina era dona de um porcentual, fez a distribuição de lucros. Como faz para chegar na rádio? Tinha que passar pela dona Celestina que estava no contrato social.

A explicação é muito simples. Bastava se ter perguntado para o padre Robson, que nunca foi chamado para ser ouvido. Toda investigação, imagino eu, deve-se iniciar ouvindo o investigado. Se ele tivesse sido chamado para ser ouvido, ele teria feito todas estas explicações e ninguém teria ficado com estas dúvidas. Preferiu-se primeiro fazer o estardalhaço para depois ouvi-lo. E ele ainda nem foi ouvido. Estamos esperando que a oitiva dele perante o Ministério Público ocorra o quanto antes, para que seja esclarecido e se encerre esta investigação o quanto antes.

Como era feita a escolha de quem receberia a cota da rádio?

Imagino que tenha que ser alguém que se disponha, integrante da Afipe que queira ajudar, evangelizar e comprar alguma rádio. Segundo, tem de ser alguém de confiança, porque depois que passasse a cota para aquela pessoa, se não é de confiança, é dela, ela pode vender para terceiros e a Afipe fica no prejuízo. Terceiro, não são tantas rádios assim para se comprar. Primeiro que é caro, segunda que a Afipe não vai comprar tanta. Eram poucas pessoas, dentre elas, aquela que estava dentro da Afipe que se dispuseram a tal.

Por que a construção da basílica está atrasada se havia tanto dinheiro em investimentos?

A construção da Basílica tinha uma previsão para ser construída em 2022. Portanto, daqui dois anos. O dinheiro que vinha entrando na conta da Afipe, era contabilizado, reinvestido em imóveis, gado, mineração, ia gerando-se lucro e assim construindo a basílica, para terminar em 2022.

No curso dessa construção, apareceu a oportunidade de se comprar uma TV gigantesca, uma emissora de TV muito grande. Então, qual foi a opção que se fez: diminuir o ritmo da construção da Basílica, mas não paralisar, e pegar parte desse patrimônio, desse dinheiro da Afipe, e dar no pagamento e comprar essa emissora de TV, que hoje é a TV Pai Eterno. E os fiéis aprovaram isso e gostam disso, porque a TV Pai Eterno é uma das maiores emissoras de TV do Brasil. Por intermédio dela, que a palavra do padre Robson e da Afipe vai ao Brasil inteiro.

Então, diminuiu-se o ritmo da construção da Basílica, comprou-se a TV e agora está se retomando o ritmo anterior da construção da Basílica. Então, quem pensa que a construção da Basílica está parada, não está. Está sendo construída. E agora foi retomada a construção da Basílica no ritmo como existia antes.

Também diminuiu o ritmo em razão da pandemia. A previsão de entrega é em 2026.

Ainda sobre a transferência de R$ 400 mil para a conta da irmã do padre Robson. Ele ou ela não comentaram nada sobre ela desde que foi divulgado no Fantástico?

Ele mesmo opinou que ele não tem o que esconder, como lhe disse. Ele mesmo pediu que venha e responda o que eu souber. Ele não tem de cabeça 15 anos de administração da Afipe e eu muito menos, até porque fui constituído agora recentemente.

Agora sobre esse depósito na conta da irmã dele, que foi perguntado inclusive no Fantástico, ele mesmo respondeu: “eu não tenho conhecimento a respeito disso, precisamos ver essa documentação para saber do que se trata”. Uma única coisa que posso afirmar é: não há nada errado, não houve ilegalidade alguma. Até porque não sai um real da Afipe. Quero saber o quê que aconteceu, se é que aconteceu de verdade.

Segundo o Ministério Público, a Afipe teve um prejuízo de R$ 60 milhões em repasses financeiros suspeitos. O padre Robson não percebia que essas relações eram desvantajosas para a Afipe?

Nós estamos partindo de premissa que nós sequer sabemos que existe. Quem disse que houve esse prejuízo foi uma perícia, nem sei se é perícia, feita pelo Ministério Público. A verdade é que nós queremos saber quais foram os critérios adotados, quais imóveis analisados e que prejuízo é esse. Pode ser que na verdade, quando faz uma contabilidade real, nem prejuízo houve.

 

 

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