Os prefeitos de 32 cidades de Goiás vão se reunir com o governador Ronaldo Caiado (DEM) no final da tarde desta segunda-feira (18) por videoconferência. O objetivo do encontro é ouvir sugestões e ações de municípios para, em seguida, ser firmado um acordo urgente, que garanta o distanciamento social no Estado e evitar que o sistema de saúde entre em colapso.

As cidades escolhidas para a reunião não são apenas as com mais habitantes ou que possuem mais casos confirmados do novo coronavírus. Também foram incluídos municípios turísticos como Aruanã e São Miguel do Araguaia, na região do Vale do Araguaia, e Caldas Novas e Rio Quente. Caiado já fez declarações sobre a preocupação com essas cidades, que acabam recebendo turistas que desrespeiram o distanciamento.

O caso de Pirenópolis é emblemático, a cidade, que em dias normais recebe grande quantidade de turistas de várias regiões do Brasil, está praticamente fechada há dois meses. A prefeitura armou três barreiras sanitárias que funcionam 24 horas por dia, com apoio de policiais militares. A proteção tem funcionado e o município não tem nenhum caso confirmado da doença.

Além das incertezas econômicas do período pós-pandemia, já que 50% da cidade vive do turismo, o representante da cidade deve pedir, na reunião de hoje, apoio justamente para manter a proteção que está fazendo, além de pedir leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o hospital estadual que existe na cidade. O Hospital Estadual Hernestina Lopes Jaime tem 34 leitos de enfermaria e nenhum de UTI.

O secretário municipal de Pirenópolis, Junio Pereira, defende que os leitos de UTI podem ser mantidos com a verba que era utilizada para cirurgias eletivas, canceladas por conta da pandemia.

Sobre as barreiras sanitárias, o Pereira conta que a Prefeitura está pagando horas extras para manter os policiais militares nas barreiras sanitárias. Ele defende que o Estado deveria pagar esses valores além do salário dos militares e exonerar o município dessa despesa.

De acordo com o secretário, a cidade comprou quantidade suficiente de Equipamento de Proteção Individual (EPI), contratou alguns médicos a mais e está com uma unidade de atenção básica destinada exclusivamente para pacientes com sintomas gripais. Ele afirma que só foi possível fazer esse preparo com um recurso destinado de uma emenda parlamentar do Congresso Nacional.

Um dos grandes desafios de se manter isolada uma cidade turística como Pirenópolis é ter que lhe dar com pessoas que, segundo Pereira, estão encarando a quarentena como uma colônia de férias. A cidade está com 3 casos suspeitos de Covid-19, aguardando resultado.

A origem da suspeita foi por causa de um morador de Goiânia, positivo para coronavírus, que decidiu ir visitar a avó e familiares no dia das mães em Santo Antônio, vilarejo cerca de 35 km da parte urbana de Pirenópolis, que tem um acesso sem barreira. “É difícil. O povo não tem consciência”, lamenta o secretário. No entanto, ele garante que cerca de 80% da população está a favor das medidas.

O prefeito de Pirenópolis, João Batista Cabral (DEM), chorou durante live ontem, quando falou sobre a irresponsabilidade de pessoas que estão desrespeitando o distanciamento social e sobre os casos que estão sendo investigados na cidade.

“Não é fácil passar a noite e pensar assim: Qual o raio dessa pessoa? Quantas pessoas tiveram contato com ela e quantas pessoas tiveram o contato com a segunda pessoa? É um efeito dominó que não queremos na nossa cidade”, desabafou.

Mais fiscalização

Outra cidade turística que tem encontrado desafios para garantir o distanciamento social é Goiás. A cidade tem um plano de flexibilização do distanciamento social em etapas, que deve ser publicado após a reunião com Caiado. O projeto prevê o aumento da quantidade de atividades que podem voltar a funcionar. Todas devem funcionar com um protocolos rígido, garante o secretário municipal de Saúde, João Batista.

Segundo o gestor, a flexibilização só será possível porque a prefeitura criou cinco leitos de UTI e tem a quantidade de EPIs suficiente. Além disso, haverá um aumento da equipe de fiscalização. “Vamos colocar fiscal para cada segmento. Vai ter fiscal exclusivo para a área de farmácia, de supermercado, construção, restaurante e assim por diante”, conta o secretário.

Cidades do Entorno do DF são alvo de preocupação
A região do Entorno do Distrito Federal é apontada com frequência como motivo de preocupação pelo governador Ronaldo Caiado (DEM), tanto pela sua proximidade com Brasília como pela falta de leitos de UTI na região. Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO), o Entorno soma 193 casos confirmados do novo coronavírus (Covid-19), que representam 11,4% de todos os casos do Estado. As cidades ao redor do DF também acumulam 12,8% dos óbitos de Covid-19 de Goiás.

O secretário municipal de Saúde de Planaltina, no Entorno do DF, Germano Ladeira, diz que o momento da videoconferência com o governador Caiado será usado para reforçar o pedido de ajuda do Estado para utilizar a estrutura de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade que não foi concluída. A prefeitura realizou o reparo da tubulação de gases do imóvel, que foi construído há oito anos, mas nunca foi completamente equipado e posto em funcionamento, segundo Ladeira.

Segundo o secretário, Planaltina não tem estrutura adequada de atendimento de saúde. Ele defende a criação de dez leitos de UTI nessa UPA, que poderiam ser utilizados pela população das quatro cidades vizinhas que somam cerca de 200 mil habitantes.
De acordo com o secretário de Planaltina, Germano Ladeira, cerca de 30 mil moradores da cidade trabalham no Distrito Federal e vão para a cidade diariamente. A primeira morte por Covid-19 em Planaltina foi da esposa de um morador da cidade que trabalha em Brasília. “O impacto de Brasília no território de Planaltina é gigantesco”, declara.

Mesmo com esse cenário crítico, a Prefeitura de Planaltina flexibilizou o distanciamento social e permitiu a abertura de vários tipos de comércio. No entanto, o secretário municipal de Saúde garante que há bastante fiscalização e que os comércios que não seguem os rígidos protocolos de segurança são fechados.

Os números de casos confirmados identificados pela Prefeitura de Planaltina são bem maiores que os divulgados pelo site da Secretaria Estadual de Saúde de Goiás (SES-GO). De acordo com a SES-GO, a cidade tem 15 confirmados. No entanto, de acordo com o secretário municipal de Saúde, são 35. Muitos dos casos confirmados de Planaltina são de moradores que realizaram o teste no Distrito Federal, por trabalhar na outra unidade da federação.

Pelos dados da SES-GO, o município do Entorno do DF com mais casos confirmados é Valparaíso de Goiás, com 57 moradores testados positivos. Reportagem do POPULAR revelou que a cidade teve um grande aumento de casos depois de flexibilizar a quarentena. Shoppings, bares e comércios funcionaram normalmente.

Luziânia
A segunda cidade do Entorno do DF com mais casos confirmados é Luziânia, com 43 confirmações, segundo estatística da SES-GO. A cidade foi a primeira a ter uma morte de Covid-19 em Goiás. Nesta segunda-feira deve começar a funcionar o Hospital de Campanha do município, com leitos de UTI equipados com respiradores consertados por estudantes da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Um outro Hospital de Campanha, que será inaugurado em Águas Lindas, teria 40 leitos de UTI equipados pelo Governo Federal, mas a unidade está sem esses leitos críticos no momento. Caiado diz que é preocupante se inaugurar um hospital de campanha sem UTI, já que os pacientes podem ter agravamento dos sintomas e ter que ser transportados para Anápolis ou Goiânia.
Na semana passada, o secretário de Estado da Saúde, Ismael Alexandrino, se encontrou com o ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello, onde ficou acertado que o hospital de campanha construído pelo governo federal será entregue ao Estado de Goiás na próxima quarta-feira (20).

No mesmo dia, foi assinado o primeiro Termo de Cooperação Técnica Interfederativa entre Goiás e o Distrito Federal, com o intuito de regular acesso de pacientes do Entorno aos equipamentos de saúde de ambos Estados, no que tange consultas, exames diagnósticos, procedimentos e internações.

“A cidade vive uma rotina diferente, não há aglomeração”, diz prefeito de Aruanã
Uma das cidades que vão participar da videoconferência com Ronaldo Caiado (DEM) hoje é Aruanã. A cidade, que faz parte do Vale do Araguaia, é motivo de preocupação justamente por seu atrativo turístico e por pessoas que, segundo o governador, estão tratando a quarentena como férias. No entanto a cidade ainda não tem casos ou mortes confirmadas.

Segundo o prefeito de Aruanã, Hermano de Carvalho (PSDB), 50% das cerca de 2 mil casas de veraneio na beira do rio estão ocupadas. Ainda não houve registro de pessoas fazendo acampamentos, mas as praias de águas doce começaram a aparecer recentemente.

No entanto, ele defende que a cidade tem um perfil que ajuda a manter o distanciamento social. “A cidade vive uma rotina diferente . Não há aglomeração. O que aconteceu, o pessoal tem que ficar de quarentena. Tem gente que está aqui há dois meses. Entre passar a quarentena em Goiânia ou Brasília, está passando a quarentena aqui.”

Hermano de Carvalho pontua que segue e vai seguir as recomendações de Caiado. “Eu respeito as decisões porque ele é médico e governador. O que ele determinar será cumprido.”

Aruanã tem um hospital municipal, o Dr. Claret, mas não tem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Cidades vizinhas como Santa Fé e Cocalinho já tem casos confirmados.

Além de Aruanã, São Miguel do Araguaia é outra cidade do Vale do Araguaia que foi incluída na reunião com Caiado.
Outras cidades turísticas com representantes presentes na reunião serão Caldas Novas, Rio Quente, Pirenópolis e Goiás.
Dessas cidades turísticas, apenas Goiás tem casos suspeitos. As outras tem apenas casos suspeitos, que ainda serão confirmados por teste.

Fonte: O Popular