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Confecções em Goiás aceleram vendas, mas sofrem com escassez de costureiros

Confecções em Goiás aceleram vendas, mas sofrem com escassez de costureiros

access_time 3 anos ago

Moda goiana esbarra na falta de costureiros qualificados para atender demanda muito expandida com negócios on-line na pandemia

O polo confeccionista goiano está retomando um ritmo bem mais acelerado de vendas, um movimento que tende a crescer a partir de agora, com a liberação das atividades econômicas na capital. Mas este bom desempenho comercial começa a esbarrar na falta de mão de obra para a produção de roupas, pois muitas confecções estão com vagas abertas que não conseguem preencher há meses. A maior dificuldade é encontrar bons profissionais para ocupar as máquinas de costura, ofício que desperta cada vez menos interesse entre os jovens.

Mesmo com a pandemia, a grife de moda feminina e masculina Pit Bull ampliou seu mix de produtos e sua carteira de clientes, que passou de 60 mil para 290 mil na base varejo, graças ao fortalecimento de seus canais digitais. A empresa, que conta atualmente com 220 colaboradores internos e 1.200 terceirizados, teve um crescimento de 64% em seu faturamento total este ano. “No fechamento do segundo ano de vendas on-line, crescemos 376% no e-commerce Brasil e 143% no exterior. Este ano, apesar da pandemia, já registramos um crescimento de 119% no Brasil e 50% no exterior sobre 2020”, conta o diretor da Pit Bull, Marcelo Torquato.

Com todo este incremento nas vendas, hoje a empresa está com 50 vagas abertas para as áreas de produção interna e comercial. Já entre os terceirizados, há uma demanda por 150 profissionais e Torquato lembra que a maior dificuldade é para contratação para as oficinas de costura. Os motivos são a falta de mão de obra qualificada, os desgastes da rotina da profissão de costureira e o próprio desinteresse da nova geração pelo trabalho técnico, e não tecnológico.

A empresária Pollyana Cavalcante Cunha de Carvalho, proprietária da marca feminina Polly Collection, que começou a produzir no início da pandemia, hoje enfrenta o mesmo problema. Ela conta que até o fim do ano passado fabricava apenas 50 blusas por mês e, hoje, já produz 1.500 peças. A produção de vestidos e conjuntos já saltou de 200 para até 700 unidades de cada um dos 100 modelos fabricados. “No mês passado, batemos recorde de vendas”, destaca.

Mas as 25 costureiras da empresa já não dão mais conta desta explosão de vendas e, hoje, ela tem cinco vagas abertas para a produção, que não consegue preencher há mais de 30 dias. “O mais difícil é encontrar mão de obra para costura. Pago acima da média de mercado e não consigo encontrar profissionais com qualificação e compromisso”, reclama. Para Pollyana, muita gente não quer compromisso com a rotina e os horários de uma empresa. Segundo ela, também existe um preconceito em relação à Região da 44, pois muita gente acha que o trabalho é pesado e que se paga pouco, “o que não é verdade”, diz. A confeccionista teme que a falta de pessoal para produção prejudique suas vendas. “Trabalho com lançamentos semanais e ainda tenho as reposições, o que sempre atrasa na produção”, explica.

Programa

Após o início da pandemia, em março de 2020, as confecções ficaram muito tempo paradas. “Neste período, muitas tiveram que demitir dezenas de funcionários”, lembra o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Estado de Goiás (Sinvest), José Divino Arruda. Estas pessoas foram em busca de outras ocupações permitidas no momento para continuarem tendo renda e, agora, está mais difícil recontratar.

“Como a carência é geral, tem empresa até levando mão de obra de municípios goianos para outros Estados”, ressalta Divino. Hoje, a maior carência é por costureiras e cortadores. Outra limitação é que cada costureira se especializa numa parte da roupa. “Dificilmente, encontramos hoje uma profissional de uma peça inteira. Este não é mais um ofício que a nova geração quer aprender”, avalia.

Para aumentar a disponibilidade de mão de obra para o setor confeccionista, o presidente do Sinvest informa que foi lançado em abril o projeto Confecciona Mais Moda Municípios Goianos, que vai qualificar populações do interior. Segundo ele, 12 prefeituras já aderiram ao projeto, que terá a parceria estratégica do Senai e IEL Goiás e visa despertar o interesse dos municípios pela atividade confeccionista. A prefeitura entra com as instalações e os parceiros, com a qualificação para interessados.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas em Geral de Goiânia (Sinroupas), Edilson Borges de Souza, lembra que 70% das roupas vendidas na Região da 44 são produzidas de forma terceirizada, através de facções localizadas em municípios do entorno da capital e interior. Segundo ele, a maior dificuldade é encontrar profissionais de mais alto nível para a produção de grifes mais caras e peças mais sofisticadas. “Algumas confecções já estão treinando costureiras no interior para sua produção.

Profissionais reclamam de desvalorização e baixos salários

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Confecção de Goiás (Sindicato das Costureiras), Jasminy Maria Medeiros Silva, atribui a falta de costureiros no mercado à falta de valorização deste trabalho. “Ficar sentada 8 horas por dia numa máquina e ganhar pouco é bem desanimador. Por isso está faltando costureira no mercado. As pessoas não querem mais seguir a profissão”, avalia.

Segundo ela, é muito difícil conseguir reajustes nas convenções coletivas e muitos profissionais acabam migrando para outros segmentos. O melhor piso hoje é em Goiânia: R$ 1.189,14 para costureiros, passadores e operadores de máquinas de bordar. Jasminy acredita que haveria mais interesse se os salários fossem melhores. “O ritmo de trabalho é puxado. As confecções trabalham no sistema de células, onde cada uma produz uma parte da roupa e o ritmo é alucinado”, diz. O resultado é que muita gente já optou por trabalhar por conta própria, abrindo sua facção em casa, na tentativa de ganhar um pouco mais. “Com o polo da Região da 44, a demanda por profissionais cresceu muito. Vai chegar um momento em que a produção ficará comprometida e terão que melhorar os salários, pois as vendas e até exportações estão aumentando”, prevê. O Clube de Costura, projeto do Mega Moda com foco em desenvolver a moda, oferece cursos presenciais e virtuais para quem quer aprender a costurar por hobby ou para se profissionalizar. São cursos que ensinam corte e costura, modelagem e ajuste básico. “Preparamos a pessoa com uma noção geral de costura com cursos rápidos e, depois, ela pode se especializar em cursos técnicos para chegar ao mercado de trabalho”, informa a supervisora do Clube, Rogelia Pinheiro.

Ela lembra que é crescente o interesse por cursos como Design de Moda, mas que o mercado também demanda cada vez mais bons profissionais de costura. “Já estamos preparando um curso específico de modelagem, que exige cálculos, para atender as confecções. Muitas até já nos procuram perguntando se oferecemos este tipo de serviço”, conta. Para o confeccionista e diretor da Acieg e do Sinroupas, Reginaldo Abdala, a falta de profissionais foi mais severa em meados do ano passado, quando as empresas chegaram a produzir em outros Estados.

“Quando as atividades foram retomadas, após o longo fechamento em 2020, tivemos dificuldade para recontratar facções. Mas as empresas foram treinar mão de obra no interior para substituir a que perderam e a oferta aumentou neste início de ano”, garante.

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