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30% dos vacinados da Saúde em Goiás não identificaram profissão no cadastro
Campo para atividade funcional é preenchido como “outros” no banco de dados dos municípios. Secretaria de Saúde diz que falha pode abrir brecha para os fura-filas. Em algumas cidades, dado é omitido por mais da metade. Goiás passa a ser 13º em ranking
De cada 10 profissionais de saúde vacinados contra a Covid-19 em Goiás, 3 aparecem sem a profissão determinada na ficha incluída pelos municípios no banco de dados do Ministério da Saúde. São 32% do total nesta categoria.
Como este grupo prioritário representa 23,3% do total de vacinados com a primeira dose em Goiás, o porcentual de “outros” entre os 597.077 imunizados com a primeira dose cai para 7,5% em Goiás. Para a Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES), esta brecha pode permitir a entrada dos chamados “fura-filas”.
Em três cidades, mais de 50% dos registros feitos de profissionais de saúde que receberam a primeira dose também não constam a profissão. Em outros 20 municípios, entre 40% e 50% dos casos aparecem sem a identificação profissional. Ao todo, são 45,5 mil casos. Além destes, há 663 registros de 53 cidades goianas que aparecem no banco de dados sem nenhuma informação.
O Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) informa os dados referentes à campanha de vacinação sem o nome dos imunizados, mas com outros dados (local de vacinação, imunizante aplicado, faixa etária etc) para análise do público. Para saber qual a profissão do vacinado que aparece como “outros”, o interessado precisaria ter acesso à ficha individual que fica no sistema de cada secretaria municipal de Saúde (SMS).
Autoridades sanitárias ouvidas pelo POPULAR nos municípios afirmam que nem todas as profissões existentes na área da saúde que estavam aptas a serem vacinadas apareciam como opção de preenchimento no sistema do Ministério da Saúde. Seria a situação, por exemplo, dos maqueiros, conforme citaram duas secretarias.
O titular da SES-GO, Ismael Alexandrino, reconhece que há casos em que o município tem dificuldade para incluir a profissão no sistema, mas que há também erros de repasse de informação e possibilidade de brechas para inclusão de fura-filas. Segundo ele, esta situação dificulta a verificação de possíveis irregularidades, mas não impede a checagem, pois a pasta tem acesso aos dados completos, como o nome do vacinado.
“Quando você vai para a análise individual, você tem acesso ao nome. Esta situação não significa que todos que estão categorizados como ‘outros’ foram vacinados furando fila, mas tem gente ali que é o legítimo fura-fila”, afirmou Ismael, destacando que a SES-GO tem uma equipe que investiga este tipo de fraude.
Há no sistema do Ministério da Saúde o cadastro de pessoas vacinadas que estão fora da ordem de imunização determinada pelo Ministério da Saúde. São poucos casos, em torno de 1.646, incluindo 2 presos de Planaltina, 23 trabalhadores da educação, 349 pessoas com comorbidades e 3 trabalhadores industriais de Anápolis.
Dificuldades
Em Aragarças, onde 52,8% dos profissionais de saúde vacinados aparecem como “outros” no banco de dados nacional, a diretora da Vigilância Epidemiológica, Rosa Maria Rêgo, explica que não tem todas as ocupações no sistema nacional de registro, mas garante que todas as fichas são preenchidas corretamente e podem ser consultadas pelas autoridades. “A única opção que temos na maioria dos casos é a ‘outros’”, afirmou. Ainda segundo ela, a rotina da campanha de vacinação tem exigido tanto empenho que nem sobra tempo para fazer a reclamação formal junto aos órgãos competentes.
O secretário municipal de Saúde de Itumbiara, Guilherme Davi da Silva, diz que a lista de profissionais de saúde autorizados a serem vacinados é ampla e vai além dos que estão atuando especificamente com formação na área da Saúde, como também os trabalhadores de apoio como recepcionistas, seguranças, cozinheiros e auxiliares, além de outros funcionários que atuam fora de unidades de saúde, mas que estão diretamente ligados à área, como os cuidadores de idosos. E muitos destes, segundo Silva, não aparecem como opções no sistema.
Já em Aparecida de Goiânia, cidade onde o total de “outros” entre os profissionais de saúde que receberam a primeira dose atinge 44,8%, a SMS informou que são pessoas que foram imunizadas no começo da campanha, quando a plataforma nacional para cadastros dos dados ainda não estava homologada e quando isso ocorreu houve dificuldades técnicas operacionais que prejudicaram o preenchimento correto.
“Como o sistema não permite alterações nos dados lançados, ainda não foi possível reclassificar. A pasta informa que aguarda a disponibilidade de edição para corrigir essas informações”, afirmou por nota.
Também em nota, a SMS de Goiânia, onde o índice de “outros” era de 30,8% dos profissionais de saúde até esta ontem (12), informou apenas que “outros” são “trabalhadores da saúde que não estão na classificação (do SI/PNI), tipo maqueiro, por exemplo”.