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Iris avisa a aliados que não será candidato à reeleição
Prefeito deve anunciar aposentadoria hoje; pedidos da família e queda sofrida em julho foram determinantes para a decisão, segundo amigos
O prefeito Iris Rezende (MDB) deve anunciar hoje que não pretende ser candidato à reeleição no pleito deste ano, marcando assim a sua aposentadoria política. Como adiantou o POPULAR ontem, o emedebista avisou a aliados a intenção de se aposentar politicamente e um pronunciamento foi convocado para a manhã de hoje, no 6º andar do Paço Municipal, para fazer o comunicado oficial.
A reportagem apurou que Iris já tinha comunicado a decisão a algumas pessoas mais próximas no fim da semana passada, após a reunião com o governador Ronaldo Caiado (DEM), ocorrida na quinta-feira (20). Ontem, inclusive, Caiado ligou mais de uma vez para Iris durante o dia, que foi marcado por reuniões do prefeito com aliados e tentativas de dissuadi-lo da decisão.
Pelo apurado, os argumentos de Iris para não ser candidato neste ano passam, principalmente, pelo discurso de que já “cumpriu seu dever” e de que deve deixar a vida pública com boa avaliação, após ter equilibrado as contas da prefeitura e feito obras importantes para a cidade. A fala é de que “consertou Goiânia” e de que sai de “alma lavada” ao se redimir do que considera um erro cometido por ele em 2010, quando deixou a prefeitura para disputar a eleição estadual.
Outro fator que pode ter pesado na decisão, segundo relatos de pessoas que estiveram com o prefeito ontem, é o fato de seus familiares demonstrarem preocupação com a continuidade na vida pública, sobretudo em meio à pandemia do novo coronavírus. Iris completa 87 anos de idade em dezembro e, portanto, faz parte do grupo de risco.
O argumento da família teria sido fortalecido ainda mais após a queda que o prefeito sofreu no fim de julho. Como mostrou o POPULAR, Iris caiu em casa e sofreu escoriações na perna e uma luxação no ombro direito, tanto que apareceu usando uma tipoia em eventos públicos – o uso do equipamento foi inclusive um pedido da filha Ana Paula, que o acompanha mais de perto.
À reportagem, aliados afirmam que tentaram argumentar com o prefeito para fazê-lo não anunciar a não candidatura à reeleição hoje, mas que ele permaneceu irredutível. A avaliação, porém, é de que, por ele, seria candidato. “O coração dele quer disputar”, afirma uma pessoa próxima a Iris. “Mas há outros componentes, como a família, que estão pesando mais.”
Dessa forma, aliados admitem que talvez não exista a possibilidade de ele recuar no anúncio de sua aposentadoria política, como já fez em ao menos três oportunidades nos últimos anos, quando disse que não seria candidato e retrocedeu da decisão após pedidos de militantes e políticos. “Mas vamos esperar para ver como vai ser. A pressão sobre ele daqui para frente vai ser muito grande”, relata outro aliado.
Iris já anunciou o fim da carreira outras vezes e, antes das convenções, voltou atrás e disputou. Foi o caso dos pleitos de 2010 e de 2016, por exemplo, quando anunciou que não seria candidato, mas acabou entrando na disputa e sendo eleito nas duas ocasiões.
Iris disse nas reuniões também que não deve participar da campanha deste ano, mesmo que seja para apoiar um nome de seu partido – o principal cotado para a disputa ao Paço pelo MDB é o ex-governador e ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. A expectativa do MDB, entretanto, é de que o prefeito deve ter alguma participação na campanha, por exemplo, no horário eleitoral.
Maguito tem feito sinalizações ao governador Ronaldo caiado nos últimos meses, por exemplo, ao defender, em entrevista ao POPULAR, alianças entre MDB e DEM para a eleição deste ano. Os sinais foram entendidos como ensaios para uma possível candidatura. Do lado caiadista, porém, a análise é de que é difícil um apoio governista a ele, que é pai do presidente estadual do MDB, Daniel Vilela, que faz oposição ao governo.
Sinal
Juridicamente, o fato de o prefeito Iris Rezende ter convocado a imprensa para fazer pronunciamento hoje, no 6º andar do Paço, dá sinais de que não deve voltar atrás na decisão de não disputar o pleito deste ano. Isso porque a Lei 9.504, de 1997, proíbe a utilização de bens públicos para anúncios de candidaturas e, na avaliação de advogados ouvidos pela reportagem, o Paço também não poderia ser usado para anunciar que não será, visto que o assunto é de interesse pessoal de Iris Rezende e não da cidade.
O Art. 73 da Lei 9.504 determina que “são proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais: I – ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária.”
Logo, na análise de alguns aliados, se fosse para anunciar que iria disputar a reeleição em novembro, ele convocaria a imprensa para outro lugar, como em seu escritório político.