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Escavadeiras abrem covas em cemitérios públicos de Goiânia com aumento de mortes por Covid-19

Escavadeiras abrem covas em cemitérios públicos de Goiânia com aumento de mortes por Covid-19

access_time 4 anos ago

Pela primeira vez, Goiânia teve de apelar para maquinário pesado para abrir covas no Cemitério Vale da Paz, às margens da GO-020, na saída para Bela Vista, em Goiânia. A medida passou a ser adotada para aliviar a carga dos servidores, que estão exaustos com o aumento do trabalho, como foi mostrado na última semana, depois do aumento de mortes causadas pelo coronavírus (Sars-CoV-2). Só neste ano, 790 pessoas que morreram vítimas da doença foram enterradas neste cemitério ou no Jardim da Saudade, no Parque Buritis, também na capital.

A retroescavadeira começou a operar nesta semana, depois que as mortes por Covid-19 passaram a ser responsabilidade apenas no Vale da Paz. Com esse aumento do trabalho, a ajuda mecânica foi indispensável. Os servidores agora auxiliam o serviço, mas não precisam mais passar horas fazendo as covas usando enxadas. Todos os dias o local tem registrado média de dez enterros de vítimas da Covid-19, mas, em alguns dias, o número chega a dobrar.

O Jardim da Saudade, por ser menor, com menos servidores e estrutura, atenderá demanda de outros tipos de mortes. Na semana passada, reportagem mostrou que filas se formavam na porta do local para os sepultamentos. Pela manhã os coveiros trabalhavam para preparar os jazigos e os sepultamentos eram marcados apenas para o período da tarde, quando de seis a oito enterros eram registrados.

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), antiga Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), informou que desde o começo de janeiro até ontem, o Jardim da Saudade registrou 398 enterros de vítimas da Covid-19. No Vale da Paz, no mesmo período, o total de sepultamos foi 392. Com a soma, os 790 registros representam 57% do total de sepultamentos nas duas unidades, que registraram, juntas, 1.369 enterros neste ano. A Sedhs informa que as medidas foram tomadas para que as unidades não entrem em colapso.

Um servidor que falou com a reportagem relatou que o trabalho tende a ficar menos pesado com o auxílio da retroescavadeira. Ele pediu para não ter o nome publicado e disse que fica triste ao perceber que a capital tem tomado medidas parecidas com as que foram necessárias em outras cidades, que tiveram colapso do sistema de saúde. “Antes a gente trabalhava na abertura de covas para atender a demanda do dia, agora a gente abre as covas para esperar os mortos, que a gente sabe que vai chegar. Tem dia que enterramos 10, 15 pessoas com Covid.”

Outros

Goiânia ainda tem mais dois cemitérios municipais: Cemitério Parque, no Setor São Domingos, e Cemitério Santana, no Setor dos Funcionários. Nesses dois locais podem ocorrer sepultamentos de vítimas do coronavírus, mas apenas de pessoas que tenham adquirido o espaço ou por terem herdado esse direito. Nesses locais não é possível a abertura de novas covas. A reportagem apurou que nessas unidades também houve aumento de enterros de pessoas com Covid-19.

Por conta do aumento da demanda, os servidores chegaram a reclamar da falta de materiais e equipamentos de proteção suficientes para atender à demanda. Em um dia de chuva, os coveiros foram flagrados abrindo as covas usando sacos de lixo como proteção. Eles também reclamaram da falta de luvas e macacões suficientes para o trabalho. A Sedhs informou que não recebeu reclamação da falta.

Os outros dois cemitérios, Jardim da Saudade e Vale da Paz, atendem pessoas que, eventualmente, estão em situação de vulnerabilidade, indigentes ou mesmo as famílias que não têm condição financeira de adquirir um jazigo particular. Para os sepultamentos nos cemitérios públicos, existe a oferta do benefícios, como a isenção de taxas. Mas esses corpos não permanecem nesses locais. Existe um prazo até que sejam retirados, para darem espaço para outros mortos (leia mais ao lado).

Ossário do Jardim da Saudade passa por obra

Nos cemitérios municipais Jardim da Saudade e Vale da Paz, depois de determinado prazo legal, os restos mortais são retirados e colocados nas gavetas dos ossários. Essas gavetas são identificadas para que os familiares saibam para onde os ossos retirados das covas foram levados. Depois de colocados nesse espaço, os servidores do cemitério fazem a cobertura para que outra fileira de gavetas seja construída, para que os próximos corpos exumados tenham espaço para serem colocados.

No Cemitério Jardim da Saudade o prazo de permanência na sepultura é de três anos. No Cemitério Vale da Paz, de sete anos. Antes de serem retirados das sepulturas, as famílias precisam ser avisadas para decidirem se esses ossos podem ser colocados no ossário ou se a família pretende adquirir algum jazigo em cemitérios particulares. No caso da segunda opção, é preciso pagar uma taxa de exumação para a Prefeitura e os familiares também precisam contratar uma empresa funerária para fazer o traslado dos restos mortais para o novo cemitério.

Um servidor que falou com a reportagem disse que não é comum que os ossos sejam levados para outros locais. “Geralmente são famílias simples, que não tinham condição de comprar um jazigo no dia da morte e, geralmente, essa situação se mantém depois do prazo tanto de três anos, quanto de sete.”

Ele ainda disse que poucas famílias retornam para verificar como está a situação depois que os ossos foram transferidos das sepulturas para os ossários. “Entendo que, cada vez menos, as pessoas estejam apegadas com essa questão do corpo físico. Quem vem aqui são pessoas mais velhas, idosas. Elas vêm, trazem flor, vela, fazem uma oração e vão embora. Muitas vezes nem sabem se é naquela gaveta que está o parente. É muito impessoal e triste. Quase nunca vejo um jovem aqui, vindo visitar túmulo, trazer flor, algo do tipo”, disse.

A reportagem esteve no Cemitério Jardim da Saudade na última semana e flagrou diversas gavetas abertas no ossário. Os restos mortais estavam expostos ao sol e à chuva, com sacos rasgados e misturados. Nesta semana, com a transferência dos sepultamentos de vítimas da Covid-19 para o Cemitério Vale da Paz, os servidores iniciaram o trabalho para cobertura.

O titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), José Antônio da Silva Netto garantiu que não houve falta de material e que a chuva atrapalhou o andamento do serviço por alguns dias, mas afirma que a cobertura será concluída nos próximos dias. Ele ainda reforça que tem estudado outras medidas que possam ser adotadas para atender a demanda por sepultamentos na capital sem que haja transtorno, assim como a continuidade da manutenção do ossário.

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