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SEFAC celebra as florestas na data dedicada mundialmente a sua preservação
Há quem diga que as palavras perdem sentido com a repetição. Mas sigamos o ditado popular: água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
É preciso falar sobre o óbvio, que parece ter se dissipado por entre um nevoeiro que encobre a razão: a floresta em pé é vida. Já passou do tempo para abandonarmos o pensamento de que a Natureza está a nosso serviço, que seus recursos são inesgotáveis. Não pode ser uma escolha difícil.
As contribuições das florestas para a manutenção da vida na Terra são inúmeras. Protegê-las significa conservar a biodiversidade e, consequentemente, a nossa existência e qualidade de vida.
Temos de pensar na interdependência entre todas as espécies.
A floresta desempenha um valioso papel na regulação do ciclo hidrológico, pois produz vapor d’água [evapotranspiração], que, transportado pelos ventos, se precipita em forma de chuva. No Brasil, os rios voadores – um fenômeno com nome poético – carregam a umidade da Bacia Amazônica para o Centro-oeste, Sudeste e Sul. Isso é muito bom, todos deveriam achar, e, sem dúvida, muito necessário. Até porque, de acordo com o jornalista ambiental André Trigueiro, uma floresta do tamanho da Amazônia produz por dia o equivalente a um rio São Francisco em forma de vapor. Logo, podemos inferir que se a floresta perder sua resiliência, nada de chuva.
Rios e nascentes existem por causa das florestas, que os conservam e protegem. Portanto, indubitavelmente, o desmatamento é um dos fatores que impactam negativamente na quantidade e qualidade da água. E, por óbvio, a desertificação é uma das consequências do desmatamento. Seguindo a lógica, é preciso compreender que existe uma relação intrínseca entre floresta e água. Está tudo junto e misturado.
O avanço sobre as florestas, além de colocar em risco – ou mesmo extinção – várias espécies, causando danos trágicos aos ecossistemas, possibilita o surgimento de novas doenças e pandemias que atingirão a nós humanos. Corrobora essa observação a médica infectologista Luana Araújo, mestre em saúde pública pela Universidade de Johns Hopkins, quando diz que ao invadirmos os biomas do Planeta sem critérios, isto é, quando temos uma relação deletéria com o Meio Ambiente, corremos um risco real, pois entramos em contato com microrganismos para os quais não temos nenhuma defesa. “Não são eles que pulam sobre nós. Nós é que corremos atrás deles ao empurrar cada vez mais as fronteiras”, adverte.
Quanto ao vírus, por exemplo, surgindo mais oportunidades de se replicar, mais aumenta sua capacidade mutagênica, “pulando” de espécies e se adaptando com facilidade ao novo hospedeiro, como nós.
Enquanto esse artigo é escrito, o Fundo Mundial da Natureza – WWF, sigla em inglês – divulgou, a partir de dados do sistema DETER, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE,) que “nos primeiros cinco meses do ano, o desmatamento registrado na Amazônia foi o maior desde 2016.O bioma perdeu 2.867 km2 de vegetação entre os meses de janeiro e maio de 2022, batendo o recorde de devastação pelo terceiro ano consecutivo”.
Quanto ao Cerrado, ainda conforme divulgação do Fundo Mundial da Natureza, “no acumulado do ano, entre janeiro e maio, já foram desmatados 2.613 km2, um aumento de 28,5% em comparação aos primeiros cinco meses de 2021”.
Segundo informação do Atlas Mata Atlântica, uma parceria Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), “entre 2020 e 2021 foram desmatados 21.642 hectares da Mata Atlântica, um crescimento de 66% em relação ao registrado entre 2019 e 2020 e 90% maior que entre 2017 e 2018.
Trigueiro faz um alerta sobre nós estarmos dilapidando a Natureza e contribuindo inegavelmente para o aumento do aquecimento global. As florestas brasileiras estão sendo destruídas com uma velocidade tal sem que sejam conhecidas e mapeadas, enfraquecendo a resiliência dos ecossistemas; levando à destruição de uma farmácia gigantesca a céu aberto e desprezando os saberes ancestrais dos povos originários.
É preciso urgentemente defender a vida. Não pode ser uma escolha difícil. A preservação e o uso sustentável das florestas são o caminho para nossa sobrevivência, seja agora, seja no porvir. “Desmatar é acabar com o futuro”, adverte o climatologista Carlos Nobre.
Vale anotar: não temos um Planeta B.