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Em entrevista, Marconi Perillo diz que o PSDB tem sido acusado de golpista de forma injusta

Em entrevista, Marconi Perillo diz que o PSDB tem sido acusado de golpista de forma injusta

access_time 7 anos ago

Governador de Goiás é visto pela publicação como uma das mais influentes lideranças tucanas, reconhece erros cometidos pelo partido, mas diz que nenhum foi o suficiente para ter que pedir desculpas à sociedade

 

Em edição publicada na última sexta-feira (18), a revista IstoÉ traz, em suas Páginas Vermelhas, uma entrevista com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

A matéria, assinada pelo jornalista Germano Oliveira, conta com 16 perguntas feitas ao chefe do Executivo goiano, que passam por temas como o governo de Michel Temer, visto por Marconi como de transição e apoiado por forças políticas, as alianças para as eleições presidenciais em 2018, as reformas que tramitam no Congresso Nacional, além de uma possível disputa pelo Planalto contra o ex-presidente Lula (PT) e também a situação interna do PSDB, seus erros, acertos e expectativas.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

O senhor defende a continuidade do apoio do PSDB ao governo Temer ou deseja o desembarque do governo peemedebista?

O PSDB foi o principal protagonista da condução do impeachment do governo do PT e, consequentemente, da ascensão do presidente Temer ao poder. Por esta razão, tem sido injustamente acusado de golpista pelos petistas. É claro que o PSDB tomou esta decisão em função do desastre da gestão petista, que afundou o País na mais grave crise econômica, social, ética, moral e política de nossa história. A contrapartida requerida pelo PSDB foi a agenda de reformas, parte delas já aprovada, e a retomada do desenvolvimento econômico do País. O governo Temer é de transição, estabelecido e apoiado por todas as forças políticas que desejam a superação da crise econômica e as reformas sem as quais o País não vai conseguir fazer a travessia que precisa até as eleições presidenciais de 2018.

Importantes governadores do seu partido, como Geraldo Alckmin, acham que o PSDB tem que deixar o governo. O senhor entende que há um racha no partido em relação a esse tema?

O PSDB continua apoiando as reformas modernizantes e a agenda econômica com foco na retomada do crescimento. A página do resultado da votação no Congresso está virada e agora o PSDB tem de dar um suporte para a aprovação das reformas. É isto que interessa ao País. A construção de uma agenda, com otimismo, foco no resultado, no crescimento da economia, na geração de emprego, na manutenção do controle da inflação e da continuidade da queda dos juros. Esse é o caminho e é isso que o presidente Temer tem demonstrado estar disposto a fazer.

Na votação sobre a admissibilidade ou não do processo contra Temer, a metade da bancada tucana votou contra o presidente. O senhor acha que esses deputados podem voltar para a base governista?

Entendo que o posicionamento se deu de forma específica em relação a uma autorização para investigação e não para uma destituição ou mudança de governo. Ninguém ali votou pelo retrocesso na transição que fomos obrigados a adotar para conduzir o país até as eleições de 2018. O voto a favor do presidente, a meu ver, se deu por conta da preocupação de muitos em relação às consequências do afastamento de mais um presidente, no momento em que o País dava sinais da retomada do crescimento e do avanço nas reformas.

O governo Temer é de transição, apoiado pelas forças políticas que desejam a superação da crise econômica e aprovação das reformas

No caso das reformas, a bancada tucana deverá permanecer unida, votando com o governo?

Não tenho a menor dúvida. A agenda de reformas é uma agenda histórica do PSDB, que começou no governo Fernando Henrique Cardoso e foi abandonada por seu sucessor.

O senhor acha que os parlamentares que ficaram contra Temer estão preocupados com a opinião pública, já que no ano que vem terão que se reeleger?

Pode ser em parte. Acredito que este aspecto pesou sim, mas o resultado mostra que cada parlamentar votou segundo sua convicção.

O senhor acha que é possível manter a aliança entre o PSDB e PMDB para 2018?

Eu já disse que o PSDB não poderia deixar o governo sem apresentar uma tese, uma explicação para os brasileiros. O Brasil não pode se resumir ao debate sobre impeachments. Do ponto de vista das alianças, o que deve nortear as composições é exatamente essa agenda de reformas e avanços. Precisamos definir de uma vez por todas a direção do nosso crescimento, para onde queremos ir. O PSDB passa por um processo de intensa discussão interna que deve culminar com um grande encontro nacional no fim do ano e do qual deverá emergir uma carta compromisso com os brasileiros, apoiada na sua trajetória, nas suas experiências de governos e no seu comprometimento com a modernização e o crescimento do Brasil.

Essas denúncias abrem espaço para políticos novos?

Existe uma expectativa nos meios políticos de uma forte renovação. Mas, toda eleição traz este clima e cria esta expectativa. E nem sempre o nível de renovação é tão alto. Muita coisa ainda pode ocorrer de forma a influenciar esta previsão, inclusive e seguramente muito importante, as regras que vigorarão a partir das mudanças na legislação eleitoral que estão em andamento. Por outro lado, muitas vezes, o que é considerado novo já nasceu velho, e rapidamente apodrece.

Como está a disputa para a corrida presidencial no seu partido? Os candidatos até então mais cotados, como Aécio Neves, foram atingidos pela delação da JBS. Quem o senhor acha que tem mais chance hoje?

O PSDB está vivendo um processo interno muito salutar de debate de teses. O que alguns classificam como divisão, como racha, pode ser visto também sob o prisma do debate, para a construção de um consenso. Mesmo diante dessa crise sem precedentes, o PSDB é o partido que tem o maior número de nomes para a sucessão presidencial. Isso mostra a importância do partido no processo político, no debate sobre os rumos do País e no processo eleitoral. Eu tenho dito sempre que, caso não consigamos consensualmente escolher um nome, temos de usar o instrumento democrático das prévias.

Em São Paulo, se avizinha uma disputa entre governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria. Qual dos dois o senhor acha que tem mais chances?

Ambos são excelentes nomes à disposição do PSDB para a disputa presidencial e ambos com chances reais de vitória, por suas trajetórias, posicionamentos políticos e pelas ótimas referências como administradores públicos. Alckmin e Doria estão unidos em torno do mesmo projeto para o Brasil. Alckmin, que é reconhecido várias vezes como tendo feito grandes governos e o prefeito Doria, iniciando a administração da maior cidade do Brasil, como um líder criativo, corajoso, modernizante, realizador e competente.

Quando se fala em candidaturas alternativas, até o seu nome é lembrado. O senhor tem esse projeto de disputar a presidência?

Fico muito honrado e feliz quando meu nome é citado. Recebo isso como um sinal de reconhecimento e respeito pelo que temos feito por Goiás.

O candidato a ser batido, segundo as pesquisas, é Lula. Quem o senhor acha que hoje tem mais condições de derrotar o petista?

As pesquisas ainda não refletem todo o grau de comprometimento com a mudança, nem o forte rigor com que serão avaliados os políticos, especialmente aqueles que têm contas a prestar na condução do País para a maior crise econômica, social e política que já enfrentamos. Nas últimas eleições, o PSDB já alertava os brasileiros em todos os Estados para as dificuldades que iríamos enfrentar por conta das irresponsabilidades fiscais dos governos petistas e de suas ideologias demagógicas e populistas. Não acredito que depois, deste de todo este processo para passar o Brasil a limpo, que tem demonstrado toda a sua abominação pela política tradicional clientelista, de aparelhamento do Estado, o País vá caminhar em direção ao retrocesso. Mas adoraria ver o PSDB disputando a eleição tendo como adversário o ex-presidente Lula.

Como o senhor vê o racha do partido em torno do programa que foi ao ar quinta-feira, em que o partido fez mea-culpa sobre seus erros?

Houve um equívoco nesse programa. As lideranças do partido não foram ouvidas e, portanto, não puderam dar opinião. Este foi um grande erro.

Quais são os erros que o partido cometeu?

Todo partido do tamanho e da importância do PSDB comete erros e acertos, como nós, seres humanos, também cometemos. Acho que os acertos do PSDB são maiores que seus erros.

O senhor acredita que o PSDB precisa reconhecer erros por ter recebido dinheiro sujo de empreiteiras e empresas como a JBS?

Como reconhecer o que é dinheiro sujo ou dinheiro limpo numa doação ao partido feita por pessoas jurídicas legalmente constituídas? Independentemente dos erros que nosso partido e seus membros tenham incorrido, e considerando as contribuições que o PSDB vem dando ao Brasil desde a sua fundação, em 1989, precisamos – e está na hora – fazer uma profunda avaliação do nosso desempenho e de nossas bandeiras. Não se trata de uma necessidade de refundação, mas de uma reflexão profunda sobre suas teses e propostas.

O senhor acha que o partido precisa pedir desculpas aos eleitores?

Integrantes do partido que eventualmente tenham cometido erros ou desvios de conduta, claro que sim. Parto dessa premissa de que o PSDB acertou muito mais do que errou.

Qual é a sua avaliação sobre a proposta de reforma política em discussão no Congresso, sobretudo em relação à criação do fundo público de R$ 3,6 bilhões para financiar campanhas eleitorais?

Não gosto da ideia de utilizarmos dinheiro público para eleições. O Brasil deveria copiar as legislações das democracias mais consolidadas e respeitadas no mundo. O financiamento privado, desde que muito bem regulamentado e eficazmente fiscalizado, poderia ser um caminho.

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