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Goianos descolam de Bolsonaro
Após repercussão do vandalismo contra os Três Poderes, políticos afirmam que identificação com as pautas conservadoras é maior do que apoio ao ex-presidente
Por: Karla Araújo
Comas alegações de que caminharam com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por conta de sua liderança na direita e de que o movimento golpista que questiona o resultado da eleição de 2022 não é formado por bolsonaristas mas, sim, por “patriotas”, os políticos goianos ligados ao grupo tentam se descolar da imagem do ex-presidente.
Anteriormente, os políticos permaneceram ao lado de Bolsonaro quando ele incitou violência e fez declarações antidemocráticas, como quando falou em “fuzilar a petralhada”, atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e questionou a legitimidade das urnas. Agora, diante do vandalismo contra os Três Poderes em Brasília, no dia 8, as lideranças condenaram o quebra-quebra, mas há casos de alguns que atribuem o extremismo a supostos “infiltrados”, mesmo sem apresentar provas – em tentativa de afastar de apoiadores a responsabilidade do episódio.
A deputada federal Magda Mofatto (PL) fez parte da base de Bolsonaro e, questionada sobre o futuro do bolsonarismo, a parlamentar ressaltou que se trata, na verdade, de um grupo que se identifica com pautas conservadoras. “Hoje, diria que não são só eleitores de Bolsonaro, é de direita. Não é de direita radical também, mas que não concorda com o que a esquerda está fazendo. (…) Acompanhei Bolsonaro porque ele era de direita e fazia coisas de direita. Isso é importante”, declarou a deputada.
Zacharias Calil (UB) tem posicionamento semelhante, afirmando que fez parte da base de Bolsonaro por integrar a direita. O deputado federal argumentou, no entanto, que deixou de votar com o governo e foi contra a direção do seu próprio partido em momentos em que não concordou com determinada pauta em debate no Congresso. Zacharias também condenou os atos de vandalismo e, após pergunta sobre o tema, disse que as falas de um presidente ou líder tem “repercussão muito grande” em seus apoiadores.
“infiltrados”
Deputado estadual com atuação em atos convocados por Bolsonaro – como em 7 de setembro de 2021 –, Paulo Trabalho (PL) levantou a teoria sobre “infiltrados” e chamou as pessoas que estiveram em atos em Brasília no dia 8 de “patriotas”. “Algumas estavam ali e se empolgaram junto, no calor da emoção, entraram na onda dos verdadeiros infiltrados, prejudicando tudo o que (o movimento) significava”, afirmou o parlamentar.
Paulo também repudiou os atos de vandalismo e disse que, em sua visão, a entrada dos golpistas nos prédios dos Três Poderes foi facilitada. “Se tivesse ocupação pacífica e ordeira, poderia ter ocorrido grande resultado”, afirmou. Segundo ele, este “grande resultado” poderia ser informações que demonstrem que a eleição de 2022 foi transparente. No entanto, informações prestadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e auditorias feitas por instituições internacionais já demonstraram a legitimidade e lisura do processo eleitoral.
Candidato derrotado na disputa pelo governo de Goiás em 2022, o deputado federal Vitor Hugo (PL) segue em defesa de Bolsonaro e seus apoiadores nas redes sociais, além de fazer críticas a Lula.
O parlamentar foi líder do ex-presidente na Câmara dos Deputados e um dos principais aliados ao longo dos últimos quatro anos. “Há que se investigar a possibilidade de infiltração de militantes de outras correntes políticas nas manifestações”, disse o deputado, em postagem que também repudiou vandalismo contra patrimônio público.
Outro aliado de Bolsonaro, o senador Vanderlan Cardoso (PSD) disse ao Giro que o ex-presidente “perdeu a oportunidade de liderar uma massa de brasileiros”, quando deixou de se posicionar de forma clara diante do resultado da eleição.
Executivo
Liderança da direita em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (UB) foi figura central na campanha de Bolsonaro em Goiás no segundo turno em 2022. Após garantir a reeleição no primeiro turno, o governador convocou os prefeitos de sua base (ele foi apoiado oficialmente por 234) para fazer campanha “pé no chão” por Bolsonaro.
Em reuniões realizadas na época, as declarações de Caiado demonstraram preocupação em manter bom relacionamento com o governo federal, em caso de vitória de Bolsonaro. O governador destacou, por exemplo, que a descontinuidade da administração federal poderia levar à necessidade de recadastramento em programas dos quais os municípios participam.
Além disso, a primeira-dama de Goiás, Gracinha Caiado, foi escalada para acompanhar a então primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, durante evento em Goiânia que teve como foco a busca por votos de mulheres. Na época, as pesquisas mostraram baixa popularidade de Bolsonaro entre este público.
“O Brasil e Goiás conhecem Ronaldo. Conheci Ronaldo há mais de 30 anos, defendendo o agro, defendendo a livre iniciativa. E nós temos lado. Em uma eleição importante como essa, não poderia ser de outra forma”, disse a primeira-dama, naquela oportunidade.
No entanto, nesta semana, Caiado disse que a postura de Bolsonaro influenciou ataques golpistas contra os prédios dos Três Poderes. “Talvez, o fato mais nocivo foi de ter levantado a tese de que as urnas poderiam não configurar o resultado da vontade eleitoral”, declarou o governador, em entrevista à Rádio Bandeirantes. Caiado também disse que “cabe ao líder não dar espaço às pessoas extremadas”.