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Bolsonaro ameaça o STF de golpe e diz que só sai morto

Bolsonaro ameaça o STF de golpe e diz que só sai morto

access_time 3 anos ago

Em discursos em Brasília e São Paulo, presidente anunciou ainda reunião com Poderes, mas acabou sendo desmentido pelas assessorias dos presidentes do STF, Câmara e Senado

Em discursos diante de milhares de apoiadores nesta terça-feira (7) em Brasília e São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro fez ameaças golpistas contra o STF (Supremo Tribunal Federal), exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República. Pela manhã, na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro fez uma ameaça direta ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux. “Ou o chefe desse Poder enquadra o seu ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”, disse, referindo-se às recentes decisões de Moraes contra bolsonaristas.

“Nós todos aqui na Praça dos Três Poderes juramos respeitar a nossa Constituição. Quem age fora dela se enquadra ou pede para sair”, disse o presidente, em um caminhão de som no gramado em frente ao Congresso. “Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, disse Bolsonaro em outra referência a Moraes.

Moraes foi o responsável por decisões recentes contra bolsonaristas que ameaçam as instituições. O ministro tem agido a partir de pedidos da PGR (Procuradoria-Geral da República), sob o comando de Augusto Aras, indicado por Bolsonaro, e da Polícia Federal, órgão subordinado ao presidente.

Os atos desta terça foram dominados por discursos golpistas do presidente e por faixas, cartazes e gritos autoritários e antidemocráticos de seus apoiadores. O STF foi o principal alvo. À tarde, na avenida Paulista, exortou desobediência a decisões da Justiça. “Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou”, afirmou Bolsonaro.

“Dizer aos canalhas que eu nunca serei preso”, disse o presidente, que prosseguiu. “Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade.” E prosseguiu: “Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha, deixa de oprimir o povo brasileiro.”

preso ou morto

Ainda na Paulista, assim como tem dito em discursos no interior do país, Bolsonaro afirmou que as únicas opções para ele são ser preso, ser morto ou a vitória, afirmando na sequência, porém, que nunca será preso. “Dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá.” A atual crise institucional, patrocinada por Bolsonaro, teve início quando o presidente disse que as eleições de 2022 somente seriam realizadas com a implementação do sistema do voto impresso – essa proposta já ter sido derrubada pelo Congresso.

No discurso em São Paulo, ele voltou a mirar o sistema eleitoral e o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. “Não é uma pessoa que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável, porque não é”, afirmou. “Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do TSE.”

Bolsonaro também atacou a decisão do corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, que vetou repasses de dinheiro a páginas bolsonaristas investigadas por disseminar fake news sobre a urna eletrônica. “Não podemos admitir um ministro do TSE também, usando a sua caneta, desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação.”

O STF analisa atualmente cinco inquéritos que miram o presidente Jair Bolsonaro, seus filhos ou apoiadores na área criminal. Já no TSE tramitam outras duas apurações que envolvem o chefe do Executivo. Apesar de a maioria estar em curso há mais de um ano, essas investigações foram impulsionadas nas últimas semanas após a escalada nos ataques golpistas do chefe do Executivo a ministros das duas cortes e a uma série de acusações sem provas de fraude nas eleições.

No discurso da Paulista, o mandatário lembrou em diversas frases a importância de seus apoiadores e agradeceu a todos os que chamou de patriotas, que se manifestaram pelo país na data. “Não existe satisfação maior do que estar no meio de vocês”, “onde vocês estiverem eu estarei”. “O apoio de vocês é primordial, é indispensável para seguirmos adiante. Nesse momento eu quero mais uma vez agradecer a todos vocês. Agradecer a Deus pela minha vida e pela missão.”

Conselho da República

O feriado da Independência também foi marcado por um factoide do chefe do Executivo que envolveu STF e Congresso. Na primeira manifestação, em Brasília, o presidente afirmou que participaria nesta quarta-feira (8) de reunião do Conselho de República, órgão consultivo que tem a função de se pronunciar sobre estado de sítio, estado de defesa, intervenção federal e questões relativas à estabilidade das instituições democráticas. Os presidentes do STF, Luiz Fux, da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disseram não haver previsão para o encontro acontecer.

Os atos de viés golpista em Brasília e em São Paulo representam uma minoria no país. Pesquisa Datafolha de junho mostrou que 75% dos brasileiros consideram o regime democrático o mais adequado, enquanto 10% afirmam que a ditadura é aceitável em algumas ocasiões. Anunciado por Bolsonaro nos últimos dois meses como uma espécie de tudo ou nada para ele, as manifestações do 7 de Setembro podem ampliar o seu isolamento político, no momento em que, de olho em 2022, depende do STF e do Congresso para a liberação de recursos e aprovação de projetos.

Ao mesmo tempo em que perde capital político com a crise entre os Poderes, intensificada por seus ataques ao Judiciário, a alta da inflação e a crise energética se colocam como novos obstáculos para o projeto de sua reeleição no ano que vem. Bolsonaro usou toda a estrutura da Presidência para os atos com ameaças golpistas, tanto no deslocamento entre São Paulo e Brasília como em sobrevoos em helicópteros na Esplanada e na Paulista. Segundo a Polícia Militar de São Paulo, 125 mil pessoas participaram do ato na avenida Paulista, que recebeu caravanas de bolsonaristas vindos de outros estados -os organizadores esperavam 2 milhões de pessoas no ato de SP. Todas as 27 capitais registraram manifestações em defesa do governo.

Como o próprio Bolsonaro já disse, ele buscava nesses protestos uma foto ao lado de milhares de apoiadores para ganhar fôlego em meio a uma crise institucional provocada pelo próprio, além das crises sanitária, econômica e social no país. “Esse retrato que estamos tendo neste dia não é de mim nem ninguém em cima desse carro de som, esse retrato é de vocês, é um comunicado, um ultimato para todos que estão na praça dos Três Poderes, inclusive eu presidente da República para onde devemos ir.”

Reveses

Os atos neste 7 de Setembro ocorreram em meio a série de reveses para o governo, com reações de outros Poderes às ameaças autoritárias disparadas pelo Executivo, desembarque de setores do empresariado e do mercado, estagnação de pautas no Congresso e horizonte econômico negativo. Bolsonaro aparece distante do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em diferentes pesquisas de opinião sobre as eleições de 2022. Pesquisa Datafolha de julho mostrou recorde na reprovação do presidente, rejeitado por 51% dos brasileiros.

Reportagem da Folha de S.Paulo deste domingo mostrou que ministros do STF e dirigentes de partidos do centrão condicionavam o futuro das relações do governo com os demais Poderes à postura que Bolsonaro adotaria no 7 de Setembro e nos dias posteriores aos protestos.

De um lado, integrantes do STF enviaram recados ao mandatário e aos presidentes da Câmara e do Senado de que o avanço das negociações em busca de saída para o rombo dos precatórios, o que viabilizaria a reformulação do Bolsa Família, só deve ocorrer se o chefe do Executivo cessar os ataques. De outro, líderes do centrão que dão sustentação a Bolsonaro no Legislativo passaram a ver o desembarque do governo no ano que vem quase como inevitável se não houver mudança de comportamento do presidente.

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