Notícias

‘Bolsonaro representa o retrocesso civilizatório, Lula, o retrocesso econômico’, diz Eduardo Leite

‘Bolsonaro representa o retrocesso civilizatório, Lula, o retrocesso econômico’, diz Eduardo Leite

access_time 3 anos ago

Pré-candidato a presidente da República fala sobre a disputa interna no PSDB e as críticas da esquerda após afirmar que é gay

“Não podemos voltar ao passado que não deu certo para tirar o que não dá certo agora”, diz o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao se colocar como um pré-candidato a presidente da República de centro, sem radicalismo, com atuação equilibrada, diálogo e que busca o “resgate da confiança na política”. Ele afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) representa “retrocesso civilizatório”, com suas frequentes ameaças antidemocráticas, e que o PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é sinônimo de “retrocesso econômico”.

Em visita a Goiânia no último sábado (7) para pedir votos a correligionários para as prévias que vão definir o candidato à Presidência da República do PSDB, Eduardo Leite falou ao POPULAR sobre a disputa interna, a polarização do País, o fato de ter votado em Bolsonaro em 2018 e as críticas que recebeu ao afirmar que é gay.

O sr. disse na semana passada que o PSDB tem de ter disposição para abrir mão da candidatura presidencial a depender do cenário para 2022. Toparia ser vice neste caso?

Não, não seria o caso. Eu sou governador, já declarei desde sempre que não serei candidato à reeleição, por não acreditar na reeleição na nossa estrutura política brasileira. E terei no ano que vem o ano mais importante do mandato do governo do Estado, com as entregas, com obras, os melhores resultados do governo. Só deixo isso se for para uma candidatura à Presidência. Se for outro o candidato que se revela mais capaz de aglutinar apoios e se apresentar à população, eu acho que devemos ter humildade para reconhecer isso. Política temos de fazer com força, determinação, vontade, mas não apenas por vontade pessoal. A vontade faz o caminho, é importante ter vontade e disposição, e não me faltam ambos, mas não é sobre atender o meu propósito pessoal para comigo mesmo, para atender a minha vaidade, a minha aspiração pessoal. É para atender um projeto de País. E, eventualmente, outra pessoa pode, numa circunstância específica, ser a que consegue melhor se conectar com o eleitor num determinado momento. Porque política também é o momento. Você tem de reconhecer que, eventualmente, o momento pede um outro tipo de candidatura. Eu estou convencido de que eu posso representar, neste momento político do Brasil, um projeto que busca reconectar as pessoas com a esperança, com o futuro. Mas temos de ter humildade para reconhecer se outra pessoa tiver esta condição.

Mas não é contraditório dizer que não é projeto pessoal, que tem de haver humildade para reconhecer outro nome com maior capacidade de aglutinar, e não topar ser vice? Não seria em nome do projeto para o País?

Não, aí eu acho que o meu papel pode ser outro, pode ser nos bastidores. Não estou dizendo que não vou ajudar. Mas aí meu papel talvez seja de ajudar, coordenar, liderar em outras frentes. Não precisa estar na chapa majoritária, porque isso envolve a renúncia ao mandato de governador. Eu tenho um contrato de trabalho, como costumo dizer, com o povo gaúcho e a saída se justifica desde que seja para liderar um projeto nacional. Se for para ser coadjuvante, então eu vou coadjuvar mantendo o meu mandato e o meu trabalho no Rio Grande do Sul até o final.

O sr. teve um encontro na sexta-feira com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Como foi a conversa?

Foi uma boa conversa. Tenho o governador Geraldo Alckmin como referência. Conhece administração pública, conhece o Brasil como duas vezes candidato a presidente, conhece o partido, não só em São Paulo, como no Brasil inteiro. Então foi uma conversa de trocar ideias, impressões, e claro, também fazer o meu apelo a ele para que fique no PSDB. É muito importante para nós que ele permaneça. Infelizmente as condições parecem difíceis (Doria quer lançar o vice, Rodrigo Garcia, como candidato ao governo, enquanto Alckmin tem planos de disputar) e ele não revelou se efetivamente deixará o partido ou não, mas a nossa insistência é para que continue no PSDB e que possa estar engajado conosco no projeto nacional.

Ele sinalizou que vai atuar em seu favor no diretório de São Paulo?

Não quero falar por ele. Vamos deixa-lo falar.

Mas o sr. foi buscar um acerto nesse sentido.

A gente tem muita afinidade, respeito mútuo. Tenho certeza da afinidade que ele tem conosco no nosso projeto, por sermos um velho PSDB, vamos dizer assim. Embora eu seja jovem, eu sempre respeitei muito o velho PSDB. Acho que não é o caso de um novo PSDB. Temos de respeitar muito as origens do partido, gente como ele, que fez o PSDB ser um partido de quadros relevantes. E há um grupo que o cerca que certamente estará conosco, independentemente de ele estar no partido ou não. Esse é o nosso trabalho. Queremos resgatar o propósito do PSDB também a partir de São Paulo.

O sr. disse que não acredita na reeleição, que foi criada em governo do PSDB. Se eleito, articularia para acabar com a reeleição?

Eu acho que é uma das primeiras coisas a ser feitas no Brasil do próximo presidente. Porque o País está num processo de divisão política muito forte. O próximo presidente, sendo alguém que não Lula e Bolsonaro, no dia 1º, se for um virtual candidato à reeleição, passa a ser atacado por lulistas e por bolsonaristas, o que vai travar ou dificultar a capacidade de avançar na agenda que realmente interessa ao Brasil. É preciso ter foco na agenda de transformação e, se o governante é candidato à reeleição, ele já começa como obstáculo primeiro daqueles que querem o retorno ao poder, os bolsonaristas e lulistas. Então, acho importante, sim, avançar numa reforma política que elimine a reeleição.

O que acha da tese de que é muito jovem, que existe uma fila na política, é preciso avançar em etapas e não seria o momento de ser candidato a presidente?

É o que eu ouço desde sempre. Quando fui concorrer a prefeito, com 27 anos, ouvi a mesma coisa, que deveria concorrer a vereador de novo para me consolidar na política do meu município. E eu concorri a prefeito, fui muito bem avaliado, terminei o mandato com 90% de aprovação, tanto é que recebi para governador 90% dos votos em Pelotas, que é a terceira maior cidade do Rio Grande, onde fui prefeito. Quando fui concorrer a governador foi a mesma coisa, que era jovem, que podia esperar. E estou lá como um dos governadores mais jovens da história do Brasil e fazendo transformações profundas no Rio Grande do Sul. No mundo, a gente também vê símbolos jovens. Uma das mais destacadas líderes no mundo hoje é a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, que começou o seu mandato com 37 anos. Há outros exemplos, como Justin Trudeou no Canadá. Gente jovem que vai assumindo posições de liderança, de destaque, e que é o que acho que precisamos também no Brasil. Abrir espaço para novos líderes. Não por serem jovens somente, mas porque tenham capacidade. Me considero com capacidade, depois de ter sido prefeito e governador de um Estado complexo como o Rio Grande do Sul, com necessidade de tantas reformas. Me sinto pronto para liderar um projeto nacional.

Na vinda a Goiás no mês passado, o governador de São Paulo, João Dória, levou um puxão de orelha dos tucanos daqui pelo fato de ele ter dois secretários goianos (Alexandre Baldy e Henrique Meirelles) que não estão no mesmo lado do PSDB aqui. O sr. tem Raquel Teixeira como secretária de Educação, que é do PSDB, e destacou isso nas entrevistas. É um contraponto?

Olha, a Raquel foi convidada pelas qualidades dela, é uma pessoa extremamente capacitada, com força de vontade e disposição para o trabalho admiráveis. E ainda tem esse benefício de, politicamente, estar alinhada dentro do projeto do PSDB. Isso ajuda, sem dúvida nenhuma. A gente respeita o partido aqui e, antes de convidar a Raquel, eu falei com Marconi Perillo e com José Eliton, justamente respeitando a estrutura política local. E me sinto muito feliz de poder contar com ela no nosso governo.

O sr. esperava tantas críticas de lideranças da esquerda quando anunciou que é gay? Como responde? E não há o risco de ficar num limbo, com rejeição da direita mais extremista e com rejeição de parte da esquerda?

Olha, houve muitos ataques, mas houve muitas manifestações de acolhimento também na esquerda. Maria do Rosário, Manuela d’Ávilla, Fernanda Melchionna, entre outras lideranças da esquerda do Rio Grande do Sul, manifestaram acolhimento, respeito, e palavras de estímulo. Sobre uma ou outra manifestação pontualmente que tenha sido feita, eu sempre procuro me colocar no lugar do outro. Por que o outro está fazendo isso? Talvez ativistas que há muito tempo atuam nesta área, militam nesta causa – e que merecem todo respeito por isso – e mais machucados ao longo do tempo por enfrentarem tempos até mais difíceis de se falar sobre esse assunto, pelas feridas de suas próprias batalhas, ao se deparar com alguém que pensa politicamente diferente falando sobre esse assunto se sintam um pouco machucadas. Eu respeito, compreendo, lamento. Mas tenho certeza que as manifestações de carinho e de apreço foram muito, muito maiores do que os ataques.

Acha que o PSDB deve ter candidato em Goiás?

Acho que sim. Nós trabalhamos para isso. Um partido que tem o tamanho, a estrutura, a história do PSDB aqui em Goiás tem tudo para ter candidatura. É algo que tem de ser construído nos próximos meses para que a gente possa ter uma candidatura viável e que represente o PSDB aqui.

O sr. disse que não chegaria em Goiânia com uma caixinha para apresentar (João Doria mostrou uma caixa da coronavac em discurso durante a visita a Goiás), mas qual acha que é o peso desse mote da vacina em favor de Doria?

O governador João Doria teve uma participação muito importante que a gente respeita na questão da vacina. É inegável a liderança que ele teve nesse processo. Mas a eleição não se dá por uma única razão, um único motivo. Estamos vendo casos no mundo, desde Sebastián Piñera, no Chile, que tem um porcentual de vacinação maior que os EUA na segunda dose, é o País da América do Sul que mais rapidamente avança na vacinação e com uma popularidade muito baixa. Vimos o exemplo de Israel na vacinação e Netanyahu perdeu o apoio político. Então, a vacinação é um componente, mas não é o único. É preciso fazer essa leitura. A gente respeita e exalta a liderança que São Paulo teve, até pelas condições do Estado, porque tem o Instituto Butantan com 100 anos de história, o que os outros Estados não têm. Então, naturalmente a liderança de São Paulo se expressa não apenas pela vocação do governador João Doria, como pela própria capacidade do Estado, institucional, a estrutura que São Paulo tem ao longo da história para atender um quesito como esse ao Brasil todo. Isso nós respeitamos, mas as discussões do ano que vem entendemos que estarão mais centradas no futuro do Brasil. Com um cenário de pandemia já controlada, esperamos, precisaremos da capacidade de serenar os ânimos, trazer o País de volta para o bom-senso, o equilíbrio, para que a gente foque em atacar os problemas, não atacar as pessoas. A política brasileira nos últimos anos ficou muito raivosa, com uma tentativa mais de destruir adversários do que de construir soluções para o Brasil. Eu aposto nisso, que a gente consiga superar, fechar um capítulo. Lula não vai cicatrizar as feridas deixadas por Bolsonaro. Precisa encerrar esse capítulo e abrir um novo. Bolsonaro, por sua vez, ataca tudo aquilo que pode ser espaço de expressão do contraditório: imprensa, Congresso, governadores, Judiciário. Não abre diálogo, não sabe conviver. Precisamos resgatar a esperança, a confiança na política. Não podemos voltar ao passado que não deu certo para tirar o que não dá certo agora. É nesse sentido que acho que posso colaborar.

O sr. tem criticado o discurso de ódio e as ameaças antidemocráticas que têm sido feitas pelo presidente Bolsonaro, em quem o sr. votou no segundo turno de 2018. Não acha que era previsível esse comportamento do presidente levando em conta a trajetória política dele e os discursos que fez durante a própria campanha?

A gente precisa se transportar àquela situação de 2018, em que tínhamos os maiores escândalos de corrupção da história recente do Brasil, com bilhões de reais que tinham sido desviados, com não apenas denúncias, mas comprovação, com devolução de dinheiro. Executivos da principal companhia do País, a Petrobras, devolvendo milhões e milhões de reais, assumindo a sua responsabilidade num esquema de corrupção institucionalizado. Seria muito ruim ao Brasil que voltassem ao poder, mas não só por isso. As denúncias de corrupção podem ser avaliadas judicialmente, mas pior ainda, ou tão ruim quanto elas, era o modelo econômico trabalhado nos governos do PT, que gerou 14 milhões de desempregados. O Brasil em 2015 e 2016 teve a mais profunda recessão da sua história. O País estava quebrado, em um momento em que o mundo estava crescendo. Era diferente da crise que estamos enfrentando agora, porque há um contexto mundial de recessão por conta da pandemia. O mundo crescia, os países emergentes cresciam mais ainda, e o Brasil, por sua própria responsabilidade, ou irresponsabilidade com que foi governado, com déficit nas contas públicas de mais de R$ 150 bilhões, que geraram as pedaladas, que ensejaram o impeachment da presidente (Dilma Rousseff). Tudo aquilo levou a uma crise de confiança, de credibilidade, afetou investimentos e fez o País entrar em recessão. A volta do PT ao poder seria muito negativa para o País do ponto de vista econômico, mantendo a falta de credibilidade, prejudicando investimentos no País e muito provavelmente nos dificultando a sair de um cenário econômico difícil. Na minha visão, era certeza de que com o PT teríamos isso. O Bolsonaro não era meu candidato, meu candidato foi Geraldo Alckmin, para quem eu votei e fiz campanha no primeiro turno. Infelizmente, não foi levado ao segundo turno. A eleição do segundo turno foi plebiscitária. Para evitar a volta do PT com o programa econômico ruim que tinha, dei meu voto ao Bolsonaro. Com as críticas. Deixei muito bem pontuadas as críticas, quem quiser pode acompanhar nas redes sociais o vídeo em que declarei voto, pontuando muito bem as diferenças. Não fiz campanha casada com Bolsonaro, não defendi o voto em Bolsonaro em momento algum, não fiz material casado. Não fiz absolutamente nada em defesa da candidatura dele. Declarei o voto como cidadão e expliquei por que estava votando. Se por um lado tinha a certeza de que a volta do PT seria ruim, do lado de Bolsonaro tinha talvez a esperança, ainda que pequena, de que poderia ser, na cadeira de presidente, diferente do que foi em cadeira de deputado. Na cadeira de parlamentar, poderia ter comportamento mais verborrágico, mas achamos que a cadeira da Presidência pudesse impor um pouco mais de sobriedade ao presidente. Errei. Errei como erraram milhões de brasileiros junto comigo nessa mesma expectativa. Agora precisamos trabalhar para corrigir este erro e evitar que estejamos diante de um segundo turno, onde tenhamos de um lado o retrocesso civilizatório e as ameaças de Bolsonaro e o retrocesso econômico e os problemas causados pelo PT. Isso que temos de evitar no ano que vem para trazer o Brasil de volta para o bom senso, para o equilíbrio, para o respeito e para uma política econômica e de governo que efetivamente produza confiança no futuro do Brasil, retomada econômica, emprego, renda.

Compartilhe essa notícia

Comentários