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Caiado exonera Adriano Baldy após entrevista
Governador publicou ontem o decreto de saída do secretário de Cultura; irmão de Adriano, Alexandre Baldy havia cobrado apoio aberto do democrata a Arthur Lira na Câmara
O secretário de Estado de Cultura, Adriano Baldy, foi exonerado ontem pelo governador Ronaldo Caiado (DEM). A decisão foi tomada pelo democrata, segundo interlocutores, em retaliação à entrevista dada ao POPULAR por Alexandre Baldy, presidente regional do Progressistas e irmão do agora ex-secretário.
Na conversa, publicada na edição impressa de ontem do POPULAR, Baldy disse que “o governador Ronaldo Caiado tem que ser claro no apoio a Arthur Lira (PP-AL), por ser o candidato do presidente Jair Bolsonaro” para presidência da Câmara Federal. Ele ainda afirmou que o democrata seria cobrado por seguidores do presidente da República se não endossasse a candidatura de Lira, que é filiado ao Progressistas, à presidência da Câmara dos Deputados.
A afirmação teria desagradado o governador, que efetivou o rompimento por meio da exoneração de Adriano. O Progressistas, inclusive, já pleiteava a titularidade da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social (Seds), em uma ampliação da aliança agora estremecida. Ainda não se sabe quem irá substituí-lo.
O desagrado de Caiado com a fala de Baldy é porque ele se encontra em uma situação delicada diante da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. Além de Lira ser apoiado por Bolsonaro, de quem é aliado, o outro principal candidato à presidência da Casa é Baleia Rossi (MDB), bancado pelo atual presidente, Rodrigo Maia (DEM), correligionário do governador. O democrata inclusive ofereceu jantares para ambos no Palácio das Esmeraldas com a presença da bancada goiana, mas não deixou uma declaração direta de apoio a nenhum dos dois.
A cobrança pela saída da neutralidade, portanto, foi o que desestabilizou a relação. Palacianos até tentaram conter o incêndio. Conforme a reportagem apurou, a exoneração de Adriano ocorreu ainda na manhã de ontem em uma conversa presencial do governador com ele. O titular teria ficado abatido e aliados tentaram reverter a situação até o último minuto antes da publicação da exoneração em suplemento do Diário Oficial na noite de ontem.
Base
A exoneração de Baldy muda o quadro político de um governo que tentava, por meio de uma renovação nas secretarias, ampliar a base para 2022. O POPULAR vem mostrando a conversa de Caiado com partidos, como o Republicanos, para integrarem sua gestão. O Solidariedade, por exemplo, indicou Henderson Rodrigues para a Secretaria de Esporte e, ontem, o ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Vitti, foi empossado como titular da Secretaria de Estado da Indústria, Comércio e Serviços (SIC), com o objetivo de aumentar o diálogo com o setor produtivo.
Com a rusga com Baldy, não só a nomeação na Seds, mas a própria relação entre o Progressistas e o governador fica incerta. Isso inclui bancada do partido na Assembleia Legislativa.
O deputado estadual Rafael Gouveia (PP), que preside a sigla em Goiânia, disse que ficou surpreso com a exoneração de Adriano e que ainda não havia conversado com o presidente estadual sobre isso. “Mas acredito que não haverá impacto. Não é do perfil do nosso presidente impor nada aos parlamentares do partido. Eu acredito neste governo do Caiado e por isso faço parte da base dele na Alego.”
Repercussão
Nos bastidores, a conversa é de que a rusga entre Caiado e Baldy terá maior repercussão com o governo federal. Essa retaliação por uma cobrança de apoio ao candidato de Bolsonaro pode gerar um novo mal-estar com o presidente da República – Caiado e Bolsonaro tiveram um breve rompimento no início da pandemia da Covid-19.
Baldy, além de presidente do Progressistas em Goiás, é secretário dos Transportes Metropolitanos em São Paulo, integrante do governo de João Doria (PSDB). Também é correligionário de Lira, candidato apoiado por Bolsonaro na Câmara. Fora isso, tinha, até então, uma aliança com o Caiado.
Ele, portanto, está no centro de uma crise política que envolve a rivalidade entre Doria e Bolsonaro na corrida pela vacina contra a Covid-19, politizada por ambos, e a corrida presidencial de 2022. Nesse embate, Caiado se posicionou ao lado do presidente da República. Mesmo com o rompimento com o governador, Baldy continua nesse centro do embate nacional, tendo ao seu lado tanto o candidato de Bolsonaro na Câmara quanto Doria.