Caldas Novas registra recorde de casos de Covid-19

Prefeitura adia aulas presenciais e Secretaria da Saúde tenta identificar a origem do contágio que atingiu trabalhadores das unidades de ensino e motoristas do transporte escolar

A confirmação de cinco casos de Covid-19 na esfera da Educação levou o município de Caldas Novas a suspender, por cinco dias, as aulas presenciais nesta segunda-feira (9) em algumas unidades da rede pública. Pelo menos outros 11 casos suspeitos foram registrados na comunidade escolar. Em julho, o município marcou o recorde de notificações desde o início da pandemia, com 1.372 diagnósticos.

Decreto do prefeito Kleber Marra (Republicanos) no final de julho havia adiado o retorno das atividades letivas para o dia 16, mas o Ministério Público recorreu e obteve liminar autorizando a retomada das aulas presenciais no início do mês, com capacidade reduzida que deveria aumentar gradativamente nas redes pública e privada.

Em junho, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) homologado pela Vara da Infância e Juventude da comarca local definiu que creches e pré-escolas municipais retomariam as atividades com 50% dos alunos presencialmente. As demais etapas do ensino, com 12,5% na primeira semana de agosto. O aumento seria gradativo, até alcançar 50% no fim do mês. O acordo foi assinado pelos representantes do Ministério Público, pelo prefeito Kléber Marra, pela secretária de Educação, Keila Rezende, e pelo procurador-geral do Município, Rodrigo de Souza.

No dia 30 de julho foi publicado um decreto adiando a retomada das atividades para o dia 16. Um dia depois, a festa Sunset, autorizada pela prefeitura, reuniu mil pessoas, a grande maioria sem proteção. Ao justificar o decreto, que também endureceu a fiscalização dos protocolos biossanitários, o prefeito alegou aumento de casos de Covid-19. O MP recorreu por entender que toda a cidade, que depende basicamente do turismo, estava funcionando. A Justiça acatou a justificativa dos promotores de Justiça Pedro Eugênio Beltrame Benatti e Vinícius de Castro Borges.

Secretária de Saúde de Caldas Novas, Emanuella Coelho informou ao POPULAR que equipes de sua pasta estão dando suporte para a Secretaria da Educação na tentativa de rastrear a origem do contágio. “Identificamos as escolas onde há casos e todos os funcionários estão sendo monitorados, entre eles um motorista do transporte escolar que tem contato com várias pessoas”, explicou. No fim de semana o Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Caldas Novas (SindiCaldas) recebeu denúncias de casos positivos em várias escolas. “Não há condições de retorno porque as escolas não estão preparadas. A taxa de contaminação aqui é altíssima”, afirmou o presidente da entidade, Eurípedes Israel.

Uma professora que preferiu não se identificar disse ao POPULAR que há um clima de muita insegurança. “As escolas não estão preparadas para nos receber, não há equipamentos de proteção suficientes.” Eurípedes Israel disse que a resistência dos trabalhadores da educação em voltar para as salas de aula está no fato de que não há uma uniformidade. “Algumas unidades estão em melhores condições, mas na periferia a situação é muito ruim. As escolas precisam de ampla reforma, para garantir principalmente ventilação adequada.” O presidente do SindiCaldas não tem dúvidas de que o turismo contribuiu para aumentar os casos de Covid. “A cidade ficou a Deus dará nas férias.”

Emanuella Coelho acredita que o surto de casos na rede municipal de ensino pode ter vínculo com o período de férias. “Pedimos para atrasar por 15 dias o retorno das aulas porque havia uma preocupação latente de que muita gente que trabalhou no mês de julho poderia positivar na primeira semana seguinte ao final da alta temporada”. De acordo com a secretária, é comum o servidor público ter outro trabalho, normalmente na rede hoteleira, ambiente onde ele poderia se contaminar. “Tenho funcionários da Saúde que, fora do plantão, são salva-vidas nos clubes. Caldas Novas depende do turismo para sobreviver. É uma cidade atípica”, disse.

Por meio de nota a Secretaria de Educação informou que recebeu com preocupação a decisão da Justiça que determinou o retorno imediato das aulas. A pasta pretende reavaliar o cenário após cinco dias e, se for seguro, será autorizada a retomada das atividades nas unidades onde foram registrados os casos confirmados e suspeitos. “O aumento de casos acontece no Brasil todo, não só em Caldas Novas. É preciso que haja segurança sanitária para o retorno das aulas presenciais, para garantir a segurança tanto dos alunos e seus familiares, quanto dos nossos servidores”, diz o comunicado.

A Secretaria de Saúde tenta revisar os números, mas tem dificuldades em alguns setores porque não encontra respaldo junto à população, segundo a titular da pasta. “Houve um casamento numa comunidade cigana que reuniu mais de 200 pessoas no final de julho. Enviamos equipes lá para fazer o teste, mas apenas 30 pessoas compareceram e todas estavam positivas. As demais ficaram trancadas em casas”, exemplificou. Segundo ela, já foi identificado também aumento de casos da doença em abrigos de idosos.

A diretoria de Vigilância em Saúde de Caldas Novas fez uma análise do número de casos confirmados de Covid-19 no município entre março de 2020 e julho de 2021. No período, o ápice registrado foi em março deste ano com, 1003 casos, mas em junho a curva voltou a subir chegando a 1064 casos e a 1372 em julho, alta temporada de férias. Até o dia 31 de julho a cidade acumulou 231 óbitos por Covid-19, sendo que seis ocorreram no final do mês, com um dia de diferença. Nos dois últimos fins de semana de julho, segundo o secretário de Turismo de Caldas Novas, Mauricio Iles, a cidade teve uma ocupação de 75%, o limite estabelecido por decreto municipal.

Maurício Iles não acredita que a circulação de pessoas de fora tenha impacto substancial no número de casos de Covid-19. “Os empresários estão trabalhando obedecendo todos os protocolos. E hoje, quem viaja são pessoas que têm segurança. Se apresentam algum sintoma gripal preferem cancelar ou adiar a viagem temendo ficar longe do seu sistema de saúde ou dos parentes. Hoje são comuns os cancelamentos de reservas”, acredita.

Pelo mapa que mostra os indicadores da Covid-19 em Goiás, elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), Caldas Novas, que integra a regional de Saúde Estrada de Ferro, apresentava situação crítica na semana anterior, mas na semana que fechou na sexta-feira (6) o quadro evoluiu para calamidade. Isso indica piora tanto no número de casos notificados da doença quanto no número de óbitos.

Evento-teste

Ainda não há repercussão na saúde municipal do evento-teste realizado no dia 31 de julho, autorizado pela prefeitura que reuniu mil pessoas em Caldas Novas. A festa Sunset, com duplas sertanejas, chamou a atenção por provocar aglomeração, pela ausência de distanciamento e o não uso de máscaras. “A empresa que realizou o evento condicionou a obrigatoriedade do teste. Se pessoas de fora positivaram, eu não tenho como saber porque o reflexo não será para mim”, explicou Emanuella Coelho.

Maurício Iles informou que a economia local não pode parar e o trabalho vem sendo feito no sentido de coibir abusos. “Ainda é cedo para saber se esse evento terá impacto na saúde, mas não temos outras festas agendadas. As pessoas precisam ser mais assertivas.” A vacinação acelerada, na visão do secretário, é a grande aposta para que a situação seja normalizada. Nesta segunda-feira o município começou a vacinar pessoas da faixa etária de 29 anos. “Está atingindo agora os trabalhadores da hotelaria, que já deveriam ter sido vacinados bem antes.”

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