O convite do governador Ronaldo Caiado (DEM) para que o MDB componha a sua chapa majoritária nas eleições de 2022 repercutiu entre aliados. A aposta é de que Daniel Vilela (MDB) seja indicado para vice-governador. O que deixa a vaga para candidato a senador como alvo da disputa entre os políticos que almejam coligar com o democrata. Por outro lado, a confirmação do presidente emedebista na vice de Caiado tem balançado a relação com governistas.

O prefeito de Catalão, Adib Elias (Podemos), é o principal abalado pela aliança. Nesta semana chegou a falar em sair da base de Caiado se Daniel fosse confirmado vice. O ex-emedebista expulso do partido em 2019 por ter apoiado o democrata em 2018 se recente da cúpula que comanda o MDB hoje. Mas, questionado pela reportagem quanto a como fica sua relação com o governador depois do convite feito na sexta-feira, Adib disse que prefere não dar declarações.

“Eu não vi nada ainda, você tem que perguntar para os dois, eu não tenho nada com isso e não vou dar declaração”, respondeu. Nos bastidores, porém, o que aliados têm ouvido de ex-emedebistas, rompidos com o partido justamente pelo apoio dado a Caiado na última eleição para governador, é que ainda não era hora para fazer esse tipo de composição. O risco é que de fato desembarquem da base caiadista.

O deputado federal José Nelto (Podemos) é apontado como um dos insatisfeitos, mas repetiu o que disse ao Giro na sexta-feira (21): “Ele é o governador de Goiás, deve ter pesquisas”. No entanto, fez sua análise com o uso de uma metáfora, citando a atitude do ex-senador dos Estados Unidos John McCain, que lutou na guerra do Vietnã e recusou a liberdade de um cativeiro no território inimigo porque seus companheiros continuariam presos.

“Você pode agregar novos companheiros, sem deixar os companheiros de guerra”, disse, em referência aos que apoiaram a eleição do governador em 2018. Nelto afirma, porém, que ainda não conversou sobre o assunto com os colegas que deixaram o MDB nessa época. “Não se pode precipitar e tomar decisões no calor dos acontecimentos. É hora de ter a paciência de Jó e a sabedoria do rei Salomão até as convenções.”

A expectativa desse grupo é justamente saber o que significa dizer que o “MDB vai fazer parte da chapa”. Para governistas, se o partido indicar um nome para se candidatar ao Senado e não a vice de Caiado, a relação do governador com os políticos rompidos com Daniel pode ser apaziguada. Outro ponto analisado nos bastidores é que o grupo não teria forças para vetar o nome do presidente emedebista na vice-governadoria. Também há aqueles que, embora tenham tido problemas com o partido no passado, não resistem a essa aliança. Não se trata de um grupo homogêneo.

Senado

A posição que o MDB vai ocupar nessa chapa, caso aceite o convite – que é o mais provável –, não será definida por Caiado neste ano. Essa parte deve ficar para 2022. Os postulantes à vaga de senador, porém, apostam que Daniel ficará com a vice. O ex-senador Wilder Morais (PSC), que pretende voltar ao cargo em 2023, diz que é por isso que o gesto do governador não impacta em sua articulação política. “Eu vejo que o governo está se articulando, é um processo normal.”

O ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que se anuncia pré-candidato ao Senado em Goiás, com o desejo de integrar a chapa de Caiado, faz a mesma avaliação: “O governador escolheu o candidato a vice-governador em um partido grande e tradicional. Então é um movimento natural. Em política é tudo muito dinâmico e a decisão da composição é do governador.”

Outro que tem revelado insatisfação com o movimento nos bastidores é o senador Vanderlan Cardoso (PSD), que inclusive é quem articula a adesão de Meirelles à chapa de Caiado. A indicação de Daniel a vice é vista como uma alavanca para que o emedebista seja o candidato ao governo em 2026 com a chancela do democrata, algo que é almejado pelo pessedista. Vanderlan, vale lembrar, foi o principal adversário de Maguito Vilela (MDB) na disputa pela Prefeitura de Goiânia em 2020, com apoio de Caiado. O emedebista tomou posse, mas morreu em janeiro por complicações da Covid-19.

Questionado, o senador disse, porém, que o convite não interfere na sua vida política. “Antes de 2026 há muito tempo. Cada eleição tem suas discussões”. Ele também descarta desembarcar do apoio à reeleição de Caiado, que foi um compromisso que fez no ano passado, em decorrência da aliança formada em Goiânia. Vanderlan ainda acrescenta que não tem problemas com o MDB e lembra que já andou junto com o partido, quando foi eleito senador pelo PP, na chapa de Daniel Vilela, na época candidato a governador. “Já viu o ditado que os adversários de hoje podem ser os aliados de amanhã?”, encerrou.