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Desafios de Caiado, Zé Eliton e Daniel
Saiba quais são os obstáculos que cada um dos pré-candidatos ao governo precisa superar, na eleição estadual, além das vantagens e desvantagens que possuem para viabilizar seus nomes na disputa
Pré-candidatos ao governo, o senador Ronaldo Caiado (DEM), vice-governador Zé Eliton (PSDB) e deputado federal Daniel Vilela (MDB) entram na fase decisiva para viabilizar as condições políticas necessárias ao enfrentamento das urnas em outubro. Os dois oposicionistas travam guerra interna para manter o controle da estrutura partidária emedebista, aspecto considerado fundamental para as pretensões de ambos. Já o representante da base aliada se prepara para a reforma no secretariado em face da desincompatibilização para a disputa do pleito, fato que testará sua capacidade de aglutinação. Eliton, contudo, tem uma vantagem em relação aos concorrentes: é o único com experiência administrativa.
Um dos fundadores da União Democrática Ruralista (UDR), entidade criada na década de 80, o senador Ronaldo Caiado é conhecido no mundo político pela defesa intransigente dos interesses dos grandes proprietários de terras no país. Sua atuação no Congresso Nacional tem sido pautada pela agenda desse setor. Como senador, tem feito oposição ferrenha ao governo de Michel Temer, no âmbito federal, e ao governo de Marconi Perillo, no âmbito estadual.
Como gestor, Zé Eliton tem sido uma espécie de curinga dentro do governo. Foi convocado por Marconi Perillo para intervenções na Celg D, ainda no primeiro mandato, e em duas secretarias estratégicas do governo nos anos de 2015 e 2016, consecutivamente. O vice-governador coordena o programa Goiás na Frente, o plano de investimentos do governo estadual que prevê R$ 9 bilhões em obras de logística e infraestrutura e de apoio aos municípios, o maior programa de investimentos em curso no país, além de sua vertente voltada para o terceiro setor – social.
O deputado federal Daniel Vilela vive no seu partido a dicotomia do novo no velho. Jovem na carreira política, o peemedebista tem dificuldade para seguir a cartilha em que rezam os seus antigos padrinhos, o pai Maguito Vilela, e o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, que o lançaram na vida pública. Os posicionamentos do parlamentar divergem das adotadas pelos dois líderes do PMDB no estado, o que pode ser um fator limitador para a consolidação da sua candidatura.
Nome tradicional, Caiado tem o desafio de agregar
O senador Ronaldo Caiado, hoje com 68 anos de idade, é o mais antigo dos pré-candidatos, tendo entrado na política em 1989, quando de forma ousada candidatou-se pelo PFL à Presidência da República, projetado pela atuação como presidente da UDR. Nesse primeiro pleito, Caiado obteve menos de 1% dos votos dos brasileiros. Na eleição seguinte, conquistou uma vaga na Câmara Federal.
Quatro anos depois, o líder ruralista enfrentou as urnas como candidato ao governo de Goiás, sendo derrotado pelo candidato Maguito Vilela. Voltou ao Congresso por quatro pleitos consecutivos, três como deputado federal e por último como senador da República. A carreira política de Caiado se concentrou basicamente no Legislativo.
Enquanto parlamentar, o trabalho de Caiado se concentrou na defesa dos grandes produtores rurais. Característica herdada da militância na UDR. As estatísticas disponibilizadas por entidades civis mostram que no período em que Ronaldo Caiado presidiu a entidade, a partir de 1985, houve uma intensificação dos conflitos no campo, resultando na morte de mais de 600 trabalhadores rurais.
O histórico afasta o senador de setores importantes da sociedade, como movimentos sociais ligados a defesa do homem do campo. Além disso, a Caiado sofre com a rejeição de sindicados e entidades, com atuações nas cidades, que também se identificam com o segmento e rejeitam o nome do democrata.
Da mesma maneira que não agregou os trabalhadores rurais na defesa que faz da causa ruralista, Caiado também se manteve distante de outros movimentos sociais, seja no campo ou na cidade, devido à forte aliança com os produtores agrícolas e aos setores mais conservadores da sociedade.
Democrata assumiu postura de oposição
Além da identificação com os produtores rurais, a atuação do democrata no Congresso ganhou projeção nacional ao assumir a postura de oposição aos governos dos ex-presidentes Lula e Dilma, ambos PT, e do presidente Michel Temer (MDB). O senador é a liderança política do estado que mais arrebanha seguidores nas redes sociais.
Mas a forma incisiva com que se posicionou contra Lula, Dilma e Temer aumentou a fama de “brigão” do senador. No ano passado, durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma, Caiado chegou a chamar o senador Lindbergh de Faria (PT-RJ) para a briga.
Nos últimos anos, o democrata intensificou as críticas também ao governador Marconi Perillo, de olho em uma candidatura ao governo e tendo como provável adversário o vice-governador Zé Eliton. Seja nos programa de TV do DEM, em entrevistas ou nas redes sociais, Caiado não tem poupado o governo nos últimos meses.
A estratégia do senador de se posicionar contrário aos governos atuais garantiu a ele seguidores nas redes sociais em todo país, no entanto o afasta de lideranças políticas, que lá na frente serão importantes para conquistar votos. Os ataques ao presidente Michel Temer exemplificam a dificuldade do democrata em ampliar as alianças dentro da própria oposição. Principal líder do MDB no país, Temer sinalizou no final do ano passado que fará de tudo para que o partido em Goiás não apoie o senador.
Os ataques aos ex-presidentes Lula e Dilma também impossibilitam que possíveis aliados de Caiado, como o próprio MDB, possam contar com o apoio do PT em Goiás. Na última semana de 2017, a presidente do partido no estado descartou uma aliança com o DEM e disse que a legenda irá apoiar a candidatura que der palanque para Lula.
Dentro da base aliada, Caiado – ex-integrante do grupo – também terá dificuldades de compor forças.
Daniel Vilela tem histórico de confronto com principais lideranças do MDB
O deputado federal Daniel Vilela (MDB), 34 anos, vive no seu partido a dicotomia do novo no velho. Jovem na carreira política, o peemedebista tem dificuldade para seguir a cartilha em que rezam os seus antigos padrinhos, o pai Maguito Vilela, e o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, que o lançaram na vida pública. Os posicionamentos do parlamentar divergem das adotadas pelos dois líderes do partido no estado, o que pode ser um fator limitador para a consolidação da sua candidatura.
A trajetória de contraposições é longa. Eleito vereador em 2008, à sombra do pai que havia sido eleito prefeito de Aparecida no mesmo ano. Maguito Vilela teve o apoio de Iris Rezende, então prefeito de Goiânia, e se reelegeu com facilidade. Daniel Vilela contou com o aval dos dois líderes e conquistou uma vaga na Assembleia Legislativa onde se notabilizou assumindo posições contrárias às dos líderes do PMDB em Goiás.
Na época, enquanto o ex-governador Maguito Vilela estabelecia um tratamento amistoso com o governador Marconi Perillo, na Assembleia, o filho fazia uma oposição incisiva ao tucano. Em 2014, Daniel Vilela se posicionou contra à candidatura de Iris Rezende ao governo, tendo trabalhado em favor do empresário Júnior Friboi que havia se filiado ao PMDB mas não conseguiu emplacar a sua candidatura.
Isso representou uma derrota interna para Daniel Vilela, que alçou praticamente sozinho o voo rumo ao Congresso Nacional. Fez uma campanha silenciosa para deputado federal. E na campanha para a prefeitura de Goiânia, em 2016, Daniel Vilela mais uma vez se colocou em posição divergente, articulando o apoio do PMDB para a candidatura de Vanderlan Cardoso (PSB) enquanto as lideranças em Goiânia tenham saído em defesa do nome de Iris Rezende.
E essa trajetória de contradições segue até o Congresso Nacional. Em 2016, no primeiro ano de legislatura, o parlamentar goiano entrou para a lista dos parlamentares em ascensão. Em 2017, já figura na lista dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso, segundo o Departamento Intersindical de Atividades Parlamentares (Diap). Além de Daniel, figuram na lista os parlamentares goianos Alexandre Baldy, Jovair Arantes e Ronaldo Caiado.
Vice-presidente da Comissão Mista de Mudanças Climáticas e um dos vices da Comissão de Constituição e Justiça, Daniel Vilela presidiu este ano a Comissão Especial da Reforma Trabalhista, um dos projetos impopulares do governo Temer. No ano passado, Daniel Vilela votou favorável ao impeachment de Dilma Roussef, posição divergente da assumido por seu pai, que foi contrário ao afastamento da petista.
Além da reforma trabalhista, Daniel abraçou outro projeto espinhoso do governo Temer. O presidente sancionou em 2016 projeto de lei do peemedebista no qual perdoava R$ 20 bilhões de multas de empresas de telecomunicação, além de injetar mais R$ 20 bilhões. O pacote ganhou repercussão nacional e buscava salvar a empresa Oi, que está em processo de falência.
Entre outros projetos apresentados por Daniel Vilela na Câmara Federal é a que autoriza o home-office, ou teletrabalho ou escritório remoto, no serviço público federal, a exemplo do que já acontece na iniciativa privada e no judiciário brasileiro. A proposta teve parecer favorável da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara. É dele, também, projeto de lei que busca aumentar o Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) no Brasil.
Projeto polêmico ainda em tramitação e que teria sido corroborado por Daniel Vilela é o que altera a Lei Geral de Telecomunicações e que representaria perdão de multas, isenção de impostos e cessão de patrimônios do Estado que somariam prejuízos de mais de R$ 100 bilhões aos cofres públicos. A proposição, ao que parece, teria por finalidade resolver o problema da Oi, companhia praticamente falida que tem atuação expressiva em telefonia fixa, inclusive no estado de Goiás.
(Foto: Reprodução)