Estado de calamidade pública, suspensão e redução de jornada de trabalho e salário, auxílio emergencial, isolamento social. Medidas adotadas em 2020 para conter a propagação do novo coronavírus não foram previstas para 2021, quando se esperava manter a retomada das atividades iniciada no segundo semestre do ano passado, após meses de maior paralisação, iniciada em março. Porém, veio nova e mais grave onda de Covid-19, contrariando prognósticos mais otimistas.

A vacinação é apontada como estratégica para preservar vidas, diminuir o ritmo acelerado da ocupação de leitos hospitalares e, também, evitar o agravamento da crise econômica. Porém, além da imunização no País só ter começado no dia 17 de janeiro, não há ainda um plano para vacinar em massa.

Em Goiás, decreto estadual de terça-feira (26) instituiu a Lei Seca – proibição de venda e consumo de bebidas alcoólicas em locais públicos e coletivos entre 22 horas e 6 horas, à qual a maioria dos municípios goianos aderiu. O governador Ronaldo Caiado (DEM) fala em mais medidas restritivas, se preciso.

É diante desse cenário de pandemia, com base em indicadores e projeções (veja quadro), que os economistas Jeferson de Castro Vieira, professor da PUC Goiás, e Marcus Antônio Teodoro Batista, especialista e mestre em finanças, falam ao POPULAR sobre perspectivas para o setor econômico em Goiás e no Brasil. Ambos indicam a vacinação como imprescindível para preservar investimentos, empregos, renda e consumo, contribuindo para reduzir gastos públicos e aumentar a arrecadação, diminuindo o déficit fiscal.

PIB

O mercado prevê crescimento de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano. Para Jeferson, não há chance. “Os boletins começam com previsão bastante otimista e depois vão diminuindo. No primeiro e segundo trimestres de 2021 entraremos em recessão técnica de novo. Serviços e comércio não reagiram, só alguns segmentos da indústria reagiram melhor, especialmente alimentos e bebidas. As pesquisas mensais mostram isso.” Ele avalia que o PIB seja de 2% para baixo, se o País crescer bem no terceiro e quarto trimestres.

“O avanço da pandemia, a vacinação devagar, muito devagar no Brasil, vai jogar o crescimento econômico pra baixo, porque provoca incerteza na sociedade, as pessoas deixam de investir, consumir, passear.” Já são 14 milhões de desempregados, e indicadores mostram que tendência é de piora. Já são 40% na informalidade, além da queda do rendimento real do trabalho, o que significa que o poder de consumo das famílias empregadas não vai se recuperar, cita.

Marcus Antônio já acredita que seja possível “atingir essa meta ousada” de crescimento de 3% do PIB. “Estamos no início do ano, ainda temos 11 meses pela frente. Ideal é que até o final do ano pelo menos 80 milhões de pessoas no Brasil estejam vacinadas, mas com 50 milhões, 60 milhões vacinados, o setor produtivo já deslancha.”

Setores mais afetados

Jeferson vê dificuldades para a recuperação de setores muito afetados pelas medidas de isolamento social. “O setor de serviços já vem com 7,4% negativos em novembro, conforme Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE. Bares, restaurantes, hotéis, promotores de eventos vão sofrer. Também o comércio varejista ampliado, que inclui a construção e a venda de materiais de construção e automóveis, acusou queda de 1,3% até novembro”, menciona, lembrando que o comércio vinha crescendo pouco, mas crescendo, e sofreu um tombo em novembro por causa da redução do auxílio emergencial para a metade, de R$ 600 para R$ 300.

O freio imposto pela crise decorrente da pandemia, indica Marcus Antônio, afetou mais o consumo nos setores de lazer, vestuário, produtos de alimentação mais caros, combustíveis, porque as pessoas tendem a rodar menos, além do impacto no setor de serviços, como educação, escolas de idiomas. Depois, acrescenta, com o fim do auxílio emergencial, deve atingir o mercado de produtos mais básicos, alimentos, medicamentos. Ele analisa que restrições para conter o avanço do vírus, em curto prazo são sempre muito ruins para a economia. “Basta ver o ano passado, quando faltou matéria-prima.”

Inflação e juros

O Banco Central sinalizou, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que os juros vão aumentar, observa Jeferson, explicando que a inflação bateu um pouco acima da meta em 2020, o governo se endividou muito e a dívida pública é enorme. “Se pagar título do tesouro a 2%, com inflação a 4,5%, ninguém vai comprar”, comenta. Uma provável alta dos juros, diz ainda, vai encarecer o setor imobiliário, cuja taxa hoje é flutuante. Ou seja, ficará mais caro para quem financiar imóveis, o que tende a desacelerar um pouco esse setor.

Sem o auxílio emergencial, caem as “compras de formiguinha” que aqueceram vendas de alimentos e de materiais de construção. “As pessoas ficaram em casa, aplicaram em reformas”, constata Jeferson.

Marcus Antônio alerta que é o consumo das famílias que impulsiona o crescimento e que isso depende de investimento, emprego, os quais exigem melhorar a expectativa, a confiança. “Vacinação em massa é a principal medida. A vacina chegou, mas devagar. Esse é o grande desafio do País.” O especialista em finanças confirma que a tendência dos juros é de aumentar por causa da inflação. “Juros em alta, consumo em queda, em especial financiamentos de imóveis, de veículos, eletrodomésticos. O dinheiro fica mais caro e a análise de crédito mais restritiva.”