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Iquego negocia vacinas e medicamento contra a Covid-19
Estatal goiana tenta acordo com laboratórios da China, Rússia e Índia, mas sem testes com voluntários e só após aprovação da terceira fase
O governo estadual negocia por meio da Indústria Química do Estado de Goiás (Iquego) com laboratórios da China, da Índia e da Rússia para uma possível futura fabricação de vacina contra a Covid-19 caso alguma delas consiga passar pela terceira e última fase de estudos. Ao contrário do que acontece em outros Estados, porém, o governo goiano não pretende estabelecer parcerias com laboratórios que preveem testes em voluntários.
Além disso, a Iquego também negocia com um laboratório chinês a compra de doses de um medicamento usado para tratamento de hepatite B que tem demonstrado, segundo a estatal, potencial de sucesso contra o coronavírus. Apesar de este processo estar mais avançado que os outros na parte burocrática, também demanda de uma confirmação científica da sua eficiência e de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Tanto o governo federal como os estaduais estão correndo atrás de parcerias com laboratórios internacionais que tentam desenvolver uma vacina eficiente contra o coronavírus Sars-CoV-2 e quatro delas estão sendo testadas em nove Estados brasileiros e no Distrito Federal. Duas delas, a da Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca (Reino Unido), e a da Sinovac (China), estão em estágio mais avançado. Nesta semana, o governo de São Paulo chegou a anunciar a pretensão de distribuir as primeiras doses da vacina da Sinovac já em dezembro.
Ao contrário dos outros Estados, entretanto, o governo goiano não se empolgou com a corrida pela vacina. A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) informou que aguarda a conclusão dos estudos desenvolvidos pela Universidade de Oxford para, caso sejam bem-sucedidos, receber as doses via Ministério da Saúde. “A distribuição e a aquisição da vacina são atribuições do Ministério da Saúde. A secretaria segue o ministério, tal qual (é com) as outras vacinas, tudo é aquisição federal”, comentou o titular da pasta, Ismael Alexandrino.
A opção da Iquego de trabalhar só com vacinas com eficiência já comprovada se deve a uma questão de segurança, conforme a estatal informou. Isso porque os governos que estabelecem parcerias com laboratórios também fazem investimentos e se comprometem com a compra do produto mesmo que a eficiência dele não seja a melhor no mercado posteriormente.
As negociações, entretanto, da forma como estão se dando segundo a estatal, garantem agilidade na aquisição caso a vacina seja bem-sucedida, com a liberdade de o governo optar por aquela que demonstrar melhores resultados (no caso entre a da Rússia, da Índia e da China). Pelos acordos já traçados, a Iquego estaria tendo acesso aos estudos em desenvolvimento pelos laboratórios.
Sem atividades há mais de 7 anos, a Iquego voltou a funcionar em junho para a produção de álcool em gel e líquido 70% para abastecer órgãos públicos e unidades públicas de saúde e ajudar no enfrentamento à Covid-19. A ideia é usar a estrutura da estatal para uma possível fabricação da vacina caso vingue a negociação com algum destes laboratórios.
A Iquego estava com as atividades suspensas totalmente desde 2013 e se encontrava em processo de liquidação pelo governo. Com mais de 15 mil m² de área construída, a estatal tem capacidade para produzir mais de 1 bilhão de unidades de medicamento.
Medicamento
Paralelamente à busca pela vacina, a Iquego negocia com um laboratório chinês a aquisição de doses de um medicamento que poderia ser usado em pacientes infectados pela Covid-19. Neste caso, o processo burocrático está mais avançado, já com a documentação em andamento, entretanto, a estatal garante que só se concretizará caso haja comprovação científica da eficácia no tratamento e após aprovação da Anvisa. Mas ao contrário do caso das vacinas, o acordo para a aquisição do medicamento já teve medidas mais formais, como elaboração de edital.
O nome do medicamento não foi informado pela estatal. A reportagem procurou especialistas goianos na área, que disseram desconhecer algum medicamento para hepatite B que esteja sendo testado para Covid-19.
Política
O Brasil, pela situação em que a epidemia se encontra no País, aparentemente em um platô elevado e com Estados ainda vivendo o contágio acelerado, tem atraído bastante o interesse dos laboratórios na aplicação de testes de vacina. E isso tem gerado uma disputa tanto entre Estados como com o governo federal, principalmente entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), vistos como adversários para a eleição de 2022. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) se coloca como aliado de Bolsonaro.