Jogo de Vanderlan Cardoso para 2022 inclui MDB, PSD, PSL e até o PT

O senador pretende disputar o governo de Goiás, mas só o fará se conseguir organizar uma frente política ampla. Porque sabe que Caiado é difícil de ser derrotado

Pensa-se, por vezes, que os políticos são adeptos da pós-verdade. Mas não é bem assim. Em política até o blefe e o balão de ensaio pertencem ao terreno da verdade, e não da mentira. O que não parece verdade são, a rigor, jogadas, mexidas nas peças do xadrez. O jornalismo, mesmo o especializado em política, assusta-se com o resultado das jogadas, sobretudo quando é pego de surpresa. “Me enganaram” — há quem diga.

Em termos de política, na realidade, ninguém engana ninguém. Porque, em termos de política, joga-se em várias frentes e quem aposta só numa delas acaba dançando.

Veja-se o caso do senador Vanderlan Cardoso, do Partido Social Democrático. Desde o início, ou melhor desde 2016, sabe-se que o candidato do PSD a prefeito de Goiânia, para 2020, é o deputado federal Francisco Rodrigues Vale Júnior, o Francisco Jr. Ele montou todo o partido na capital tendo em vista este projeto. De repente, com a adesão de um senador — aprovadíssimo pelo presidente nacional do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab —, o quadro pareceu mudar. Vanderlan Cardoso entrou no jogo como pré-candidato a prefeito da capital.

Mas o que o PSD, que tem articuladores de primeira linha, como o ex-deputado Vilmar Rocha, queria mesmo era bancar Vanderlan Cardoso? Não era, não. Mas parecia. Por quê? O PSD armou dois jogos.

Primeiro, queria montar uma chapa consistente para vereador, e, com um pré-candidato a prefeito como Vanderlan Cardoso, um senador, os convidados para disputar sentiram firmeza. “O PSD está no jogo”, dizia-se (o católico Francisco Júnior ficou fraco? De nenhuma maneira, terá um senador articulando sua campanha, e com forte presença no meio evangélico de Goiânia). Segundo, o PSD tensionava o processo político forçando o MDB a escolher entre Iris Rezende, o prefeito da capital, e o ex-governador Maguito Vilela.

Confuso? Parece. Mas não é, não. Veja-se a seguir o exame do cenário.

O quadro não está claro obviamente porque o cenário não é claro, ou melhor, não é rígido — está em mutação. Os movimentos do xadrez, com reis e rainhas ainda não em risco, são perceptíveis mais para os que estão jogando na linha de frente. As coisas ainda estão acontecendo, quer dizer, não aconteceram em definitivo.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do Democratas, é o elemento político que define o jogo da situação, o seu, e o das oposições. Quanto mais forte for, e permanece com uma imagem muito boa na sociedade, acrescentando a visada humanista — mais preocupado com a vida do que com ideologias —, vai forçar as oposições a girarem em torno de seu projeto político-eleitoral. Ele é Sol, com planetas tentando se aproximar, com o objetivo de reduzir a força de sua luz.

Em 2022, daqui a dois anos, se estiver muito forte e se as forças das oposições forem muito divididas para a disputa, Ronaldo Caiado será reeleito, e com a mesma facilidade de 2018. Os líderes das oposições sabem disso e estão a examinar o quadro com lupa. Mesmo sob uma crise gigante, derivada da crise nacional e da pandemia do novo coronavírus, os oposicionistas que examinam as pesquisas com percuciência estão surpresos com os bons índices do governador.

Ao entender que Ronaldo Caiado caminhará forte para 2022, articuladores como Vanderlan Cardoso, Vilmar Rocha, Maguito Vilela, Daniel Vilela abriram conversações. Com pesquisas nas mãos, descobriram que Vanderlan Cardoso iria para o segundo turno contra Iris Rezende, com a possibilidade de derrotá-lo. Mas a aliança para 2022 poderia ficar comprometida. Daí que, com o lançamento de Vanderlan Cardoso, cogitava-se que, sob ameaça de perder, o prefeito emedebista saísse do páreo e hipotecasse apoio a Maguito Vilela para prefeito, com Paulo Ortegal, do grupo irista, na vice (o ex-deputado Simeyzon Silveira, do PSD, também era cotado).

Se fosse eleito prefeito, sobretudo com o apoio do PSD, Maguito Vilela apoiaria Vanderlan Cardoso para governador em 2022. Daniel Vilela, o presidente do MDB, poderia disputar mandato de senador. Ou então poderia figurar na chapa como vice. Nas oposições, comenta-se que o ex-deputado federal Alexandre Baldy, hoje aliado do governador Ronaldo Caiado, também poderia compor a chapa majoritária. Há outras jogadas.

O deputado federal Delegado Waldir Soares, presidente do PSL em Goiás, também é cotado para a chapa majoritária. Sua preferência é pela disputa ao Senado. O presidente do PSDB, Jânio Darrot, prefeito de Trindade, também é mencionado para compor a chapa majoritária. Mas a surpresa maior é o deputado federal Zacharias Calil, que é filiado ao DEM. O médico pretende disputar mandato de senador, mas, se for barrado pelo DEM em sua pretensão, pode compor com o grupo de Vanderlan Cardoso, se este garantir-lhe uma vaga na chapa majoritária.

Quando perguntado sobre o assunto, Zacharias Calil diz que está cedo para qualquer avaliação sobre 2022, mas admite que pretende disputar mandato de senador e que o governo de Ronaldo Caiado não o consulta, por exemplo, sobre saúde. “Não sou chamado para nada”, resume.

O PT de Rubens Otoni também pode ser convidado para as conversas da montagem de uma chapa anti-Ronaldo Caiado. O deputado federal pretende disputar mandato de senador em 2022, abrindo espaço para Kátia Maria ou Adriana Accorsi disputar mandato na Câmara dos Deputados.

O grupo de Vanderlan Cardoso abriu várias frentes de conversações com empresários, sobretudo com aqueles que estão descontentes com o governo do Estado.

Portanto, o objetivo de Vanderlan Cardoso nunca foi disputar a Prefeitura de Goiânia. O que ele quer mesmo é disputar o governo de Goiás, mas com o apoio de uma ampla frente política. Porque sabe que o governador Ronaldo Caiado é uma pedreira difícil de ser superada.

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