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O cálculo político de Marconi Perillo
Por: Cileide Alves
A última imagem pública do ex-governador Marconi Perillo (PSDB) em Goiás datava de 11 de outubro de 2018. Em uma foto distribuída à época por sua assessoria, ele aparecia ajoelhado solitariamente na Catedral Metropolitana de Goiânia, rezando depois de deixar a sede da Polícia Federal, onde passara a noite. Um ano e oito meses depois, Marconi reapareceu publicamente neste domingo (21) no palanque de inauguração do Hospital Municipal de Hidrolândia. A aparição não foi ao acaso. Ela ocorre em momento, local e com motivação escolhidos pelo ex-governador.
O contrato de trabalho assinado com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em novembro de 2018, deu a Marconi o pretexto para o autoexílio em São Paulo. Sua saída abrupta de Goiás ocorreu em meio à repercussão do escândalo da Operação Cash Delivery, de sua surpreendente derrota para o Senado e à vitória de Ronaldo Caiado (DEM) para o governo ainda no primeiro turno da eleição.
Verdadeiramente o ambiente político tornou-se hostil a Marconi com a virada política que conduzia Caiado ao poder, um duro adversário forjado em muitos anos de acirradas disputas políticas na base da qual os dois participavam. Uma inimizade quase familiar, daquelas que deixam marcas e ressentimentos profundos.
O ex-governador podia ter se recolhido politicamente, como fazem naturalmente os derrotados, e continuado a viver no Estado. Entretanto, ele escolheu se transferir para São Paulo. Mudou sem se despedir e nem mesmo dar uma explicação à população que o prestigiou ao longo de uma carreira de sucesso.
A mudança, e às pressas, inspirou o novo governador a criar o slogan “Em Goiás ou o bandido muda de profissão, ou muda de Estado” e lhe ofereceu elementos para intensificar denúncias de corrupção supostamente havidas nos governos do tucano, que Caiado passou a denominar de a “Disneylândia da corrupção”. Compuseram ainda o quadro desfavorável a Marconi, o apoio dos goianos à renovação política, manifestada na consistente vitória de Caiado nas eleições, e o apoio que a população sempre oferece ao primeiro ano de um governo.
Passado um ano e meio do mandato de Caiado, as gestões do ex-governador José Eliton e de Marconi aquietam-se no passado enquanto a rotina impõe-se ao governo de plantão com as aflições do tempo presente. Um Estado com mais demandas do que recursos; a complexidade de manter o funcionamento da máquina pública; a mediação de interesses antagônicos da sociedade; a necessária distinção entre justas reivindicações de servidores e lobbies corporativistas; a gestão de disputas políticas no próprio governo e a necessária vigilância da equipe, seja para cobrar eficiência administrativa ou para coibir possíveis irregularidades, que já fazem sombra a este governo.
Assim, Marconi sentiu mudança no ambiente político e que este é mais favorável à estruturação de seu retorno à política goiana. A escolha de voltar pela inauguração de um hospital faz parte desse cálculo político. Como ficou 20 anos no poder, ele acredita que a comparação de seus governos acontecia com ele mesmo, pois os eleitores, especialmente os mais jovens, não se recordam como foram as gestões de Maguito Vilela (1995-1998) e as de Iris Rezende (1983-1986 e 1991-1994). Agora a população tem no governo Caiado um novo parâmetro e o ex-governador confia que possui as condições para se sair bem nessa comparação.
Por isso em seu discurso em Hidrolândia ele elogiou a “sensibilidade” do prefeito Paulo Sérgio Rezende de construir um hospital. “Só as pessoas puras de coração, as pessoas com sensibilidade, que valorizam a vida, os mais pobres, são capazes de valorizar obras na área social e de saúde. Isso toca fundo no meu coração, especialmente no momento em que o Brasil ultrapassa os 50 mil mortos pela Covid-19 e mais de 1 milhão de infectados”, disse. Marconi falava de si mesmo e a uma plateia formada apenas por amigos próximos. Por enquanto, foi uma prova fácil, mas na medida para seu propósito atual de retornar lentamente e sem estardalhaço ao palco da política.
Fonte: O popular