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‘O PSDB está pronto para a comparação’, diz José Eliton
Dirigente tucano em Goiás diz que não há decisão judicial contra Marconi e que população fará paralelo em termos administrativos com a gestão de Caiado
Por: Fabiana Pulcineli
Com aposta no desgaste do presidente Jair Bolsonaro com reflexos nos Estados e na falta de “marcas” da gestão de Ronaldo Caiado (DEM), o PSDB goiano se anima com a candidatura do ex-governador Marconi Perillo ao governo em 2022. Conforme mostrou o Giro ontem, a executiva e prefeitos do partido defenderam o nome dele – antes cotado para disputar cadeira de deputado federal – para o Executivo, em reunião na terça-feira.
Marconi não deu resposta oficial, mas demonstra entusiasmo com a ideia. Nas últimas semanas, retomou a presença nas redes sociais de forma mais intensa, e tem feito reuniões para discutir estratégias. Questionado sobre os desgastes do PSDB e as investigações da Operação Cash Delivery, em 2018, o presidente do PSDB goiano e ex-governador José Eliton disse que não há nenhuma decisão judicial contra Marconi e que a população fará a comparação em termos administrativos.
Em entrevista ao Papo Político, na CBN Goiânia, com um acréscimo para o POPULAR, Eliton conta o que o PSDB anda pensando sobre a disputa de 22. O partido encomendou uma ampla pesquisa, bancada pelo PSDB nacional e que deve ficar pronta nos próximos dias, sobre a avaliação do governo Caiado e os segmentos mais insatisfeitos com o democrata.
O ex-governador Marconi Perillo vai disputar o governo em 2022?
O lançamento de candidatura própria ao governo do Estado foi uma questão fechada pela Executiva do partido. O nome que surge como natural neste processo é do governador Marconi, e houve um chamamento das lideranças do partido buscando convencê-lo a disputar. Ele ainda não definiu, ficou sensibilizado, mas é um dos nomes à disposição do PSDB para a missão de representar um projeto que signifique a recuperação, o resgate do Estado de Goiás.
O PSDB ainda sofre grandes desgastes por conta das investigações que ocorreram em 2018, sofreu enfraquecimento naquela eleição e nas eleições municipais do ano passado. O sr. acha que o eleitor já se esqueceu?
Não é questão de esquecer. Eu tenho convicção de que o eleitor sabe divisar entre aquilo que é feito para obtenção de dividendos políticos e o que é fato real. Não há nenhuma decisão judicial que possa desabonar a conduta de Marconi. Observa-se no Brasil inteiro que situações como essa acabam por deturpar a realidade dos fatos. Estamos muito tranquilos em relação a isso. O que queremos é fazer um bom debate, discutir o que está ocorrendo no Estado, o retrocesso que este governo impingiu à população. Os governos Bolsonaro e Caiado, que são muito parecidos, são responsáveis por bujão de gás a mais de R$ 100, o quilo de arroz a mais de R$ 30, qualquer combustível a mais de R$ 5. No caso específico do governo Caiado, não há nenhum planejamento, nenhum projeto, não tem programa social, não tem programa de qualificação profissional, não há nenhuma perspectiva de melhora na vida dos goianos. Queremos resgatar justamente o orgulho de ser goiano e ações do governo que visem melhorar a vida das pessoas. É dentro dessa perspectiva que vamos levar um bom debate para 2022.
Mesmo não havendo decisão judicial contra Marconi, ele nunca deu todas as explicações sobre os fatos investigados em seus governos. Em nível nacional, há uma cobrança grande ao PT por fazer uma autocrítica, admitir os erros e fazer compromissos em não repeti-los. Aqui em Goiás, o PSDB fez essa autocrítica?
Acho que Marconi está fazendo sua defesa no palco adequado, que é nos autos. E justamente por isso o processo da Cash Delivery, que foi remetido à Justiça Eleitoral, foi arquivado a pedido do próprio Ministério Público. Agora há uma discussão se poderia remeter parte para a Justiça Federal ou não, mas isso sequer iniciou a tramitação do processo. O fato é que hoje, em relação à Cash Delivery, há uma decisão judicial que arquivou no âmbito eleitoral. Mas acho que qualquer partido político, quando assume o poder, tem um conjunto de acertos e de equívocos. E na gestão pública vamos avaliar essa situação. Grande parte dos programas que propiciaram o desenvolvimento do Estado foram obras e realizações dos governos do PSDB. Quais foram os equívocos que tivemos ao longo desses anos? O que interessa à população são as questões de natureza administrativa, o que impacta a vida de cada cidadão. Quando construímos o Hugol, o Crer, fizemos a reforma do HGG, o Hospital do Servidor Público, que virou HCamp, um conjunto de ações na área de segurança pública, a população percebeu aquilo que melhorou na vida dela. Quando fizemos o Bolsa Universitária, quando o servidor público foi valorizado – poderíamos talvez ter valorizado mais -, as pessoas perceberam. É isso que queremos levar ao debate e é essa autocrítica do ponto de vista administrativo é que haveremos de discutir. Princípios como honestidade e moralidade não são pra ser debatidos, isso é obrigação básica. Nesse sentido, enquanto não há qualquer decisão judicial, a Constituição estabelece o princípio da presunção de inocência. O PSDB está pronto para a comparação e para mostrar os equívocos do atual governo, as fake news sobre a situação fiscal do Estado. Vamos mostrar que este é o governo que mais endividou o Estado na história. Vamos mostrar o equívoco que é a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. A população haverá de fazer sua avaliação crítica e decidir o que quer para o futuro de Goiás.
Sobre essa avaliação pública de Marconi Perillo, ele disputou o Senado e teve votação inexpressiva em 2018. O que leva o partido a crer que agora ele seja competitivo na disputa ao governo?
A eleição de 2018 foi atípica sobre todos os aspectos. Tivemos uma série de incidentes naquela eleição – não só em Goiás, mas em outros Estados e em âmbito federal também – que tiveram forte influência sobre os resultados. É uma eleição que não serve como paradigma para uma análise futura. Temos indicativos de um sentimento de muita decepção e desgaste do governo atual. Há também um esgotamento do modelo de extrema-direita em Goiás e no Brasil. E há um resgate, e para isso é necessário tempo, de todas as análises sobre o ex-governador Marconi. Estou convicto de que ele é uma liderança consolidada, é um nome que tem densidade eleitoral, capilaridade em todo o Estado. Há uma demanda vindo não só do corpo partidário, mas também da sociedade. E estamos nos preparando não apenas por isso, mas também por uma questão ideológica e de apresentar um bom projeto. Caso Marconi não aceite esse desafio, temos outros nomes também para representar o partido em 2022 (ele cita o empresário Otávio Lage como um dos nomes).
O sr. citou questão ideológica e disse recentemente que o PSDB poderia conversar com o PT, depois daquele encontro entre os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Marconi em seguida disse que os dois partidos são água e óleo e uma aliança não é possível. O PSDB não tem unidade sobre a busca de alianças para o ano que vem?
Eu acho que tem. Eu vou trabalhar e dialogar para que possamos fazer alianças com todas as forças progressistas, todas as forças que estejam no polo antagônico ao governo Bolsonaro e ao governo Caiado, inclusive o PT. E quando leio a nota do ex-governador Marconi, ele não diz que seria impossível, mas apenas colocou as diferenças entre os dois partidos, que realmente existem. Mas temos de buscar neste momento de responsabilidade, de salvar valores democráticos, de resgatar princípios importantes na vida social, como tolerância, respeito. Vocês jornalistas observam todo dia uma desqualificação vinda do Palácio do Planalto. É preciso por um fim a esse modelo de fake news, de destruição de imagens, de pessoas, que é feito tanto no governo federal como no estadual. A meu ver, quando Marconi estabelece a posição individual dele, ele fala das diferenças dos partidos, mas na mesma nota reconhece que é importante manter sempre o diálogo de alto nível. Eu faço isso com muita tranquilidade. Fui advogado de Paulo Garcia (ex-prefeito de Goiânia, do PT, que morreu em 2017), era um homem de bem, a esposa dele trabalhou comigo no governo; fui advogado de Pedro Wilson (ex-prefeito de Goiânia), conheço o Rubens Otoni (deputado federal também do PT), disputei eleição com a Kátia (Maria, presidente estadual do PT) de maneira muito leal e tranquila. O PT tem quadros qualificados, Adriana Accorsi (deputada estadual), enfim um conjunto de pessoas que acham que podemos dialogar. Isso não significa que tenhamos condições já de fazer uma aliança no primeiro turno, mas significa estabelecer diálogo conceitual e que permita uma união, se for o caso, no segundo turno. Eu, particularmente, vou trabalhar – e isso vai depender da vontade das duas partes – para iniciarmos um processo que eventualmente possa desaguar inclusive numa aliança já no primeiro turno.
Mas o PT falou que esta conversa passa pelo apoio à candidatura de Lula. Marconi já chamou Lula de maior canalha do País (em 2013). Enxerga a possibilidade de ele pedir voto ao petista?
Marconi já teve uma boa relação com a ex-presidente Dilma e também com o ex-presidente Lula. Os dois sofreram muito, aprenderam muito, e o contexto do momento é muito diferente. Mas, como eu disse, o importante é se estabelecer o diálogo, considerar o que é mais relevante para os dois partidos neste momento.
O sr. disse que o PSDB vai se posicionar formalmente contra a adesão ao RRF. Mas não é fato que as gestões do PSDB, e foi o sr. que encerrou o mandato em 2018, deixaram o Estado em condições financeiras negativas, com contas a pagar, uma folha em aberto, descumprimento do teto de gastos (o que provocou penalidade ao Estado pelo Tesouro Nacional) e outras contas em atraso?
Não. Se você observar os dados no Tribunal de Contas, vai ver que não deixei folha em aberto. Paguei parte da folha de dezembro e ela deveria ser quitada até o dia 10. Deixei R$ 700 milhões em caixa, dos quais R$ 100 milhões eram do Fundeb que poderia ter sido usado para pagar os servidores públicos, e com a arrecadação até o dia 10 seria mais que suficiente para liquidar a folha. E seria importante que todos lessem o voto do ministro Gilmar Mendes (do Supremo Tribunal Federal, na decisão que determinou o ingresso de Goiás no RRF), porque ele diz que em 2018 o Estado não preenchia as condições para adesão ao regime, todavia ele inaugura um precedente no âmbito do STF autorizando o ingresso a partir das perspectivas apresentadas pelo governo de que nos anos subsequentes o Estado poderia ter dificuldade fiscal muito grande. Ele usa inclusive a expressão de que não seria adequado esperar o paciente entrar numa situação muito grave para autorizá-lo a ir para a UTI. Mas ele demonstra efetivamente que a saúde financeira do Estado naquele momento era adequada. E mais, no voto dele, ele afasta qualquer relação com os gestores da época. É tão evidente porque o governo atual nem teria entrado na Justiça. Entrou justamente porque não preenchia os requisitos. Isso demonstra que vai caindo a farsa, as fakes news montadas para levar a um discurso político de terra arrasada. Agora teremos oportunidade de debater solidamente esse tema, com documentos e números que calçam a verdade. O atual governo fez uma opção política ao ingressar no RRF em vez de fazer uma política de austeridade fiscal.
A cúpula do MDB parece estar cada vez mais próxima do governador Ronaldo Caiado. O PSDB buscará o partido para aliança ou já descarta?
Vamos buscar e manter diálogo com todos, mas de fato os sinais são de aproximação com o Palácio e isso inviabiliza qualquer conversa.
Fonte: O Popular.