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Prefeitos em Goiás acusam desgaste após decreto estadual

Prefeitos em Goiás acusam desgaste após decreto estadual

access_time 4 anos ago

Divergências entre medidas mais rigorosas de suspensão de atividades em vigor no Estado e normas adotadas por municípios para combater a Covid-19 têm sido questionadas

Por: Elisama Ximenes

As divergências entre os decretos municipais e o estadual com as medidas de combate á Covid-19 têm causado um desgaste político para os prefeitos. Apesar de descartarem, por ora, um embate com o governador Ronaldo Caiado (DEM), gestores municipais assumem que a adesão ou não à determinação estadual tem gerado ruídos que impactam tanto nas suas próprias imagens quanto na do chefe do Executivo goiano.

Aparecida de Goiânia é um município que tem protagonizado a discussão política sobre a diferença das normas expedidas. Diferentemente da maioria das cidades da Região Metropolitana de Goiânia, a prefeitura de lá optou por não aderir ao decreto estadual, mais restritivo, e seguir com o seu, que estabelece um escalonamento entre as regiões da cidade.

Com isso, no primeiro dia do decreto estadual, o município foi um dos alvos de ação fiscalizatória da Polícia Militar. A situação gerou um desgaste que chegou a ser interpretado como uma ação política, já que o prefeito Gustavo Mendanha (MDB) é adversário de Caiado.

Mendanha diz não acreditar que o governador tenha tido intenções políticas. “Eu acho que foi uma divergência de interpretação”. Apesar disso, ele afirma que foi, sim, alvo de ataques políticos, mas que não acredita que tenham sido coordenados por Caiado e, por isso, descarta um desgaste com o democrata. “Acho que algumas pessoas, e não creio que isso parta do governador, têm soltado informações falsas a meu respeito, mas isso não me incomoda.”

Entretanto, ele continua: “O que acho deplorável é a utilização da foto do meu pai (Léo Mendanha, que está internado com Covid-19) para tentar manchar a minha imagem. Isso me aborreceu muito”, relata.

O emedebista também reforçou que vai manter seu decreto até que haja decisão judicial que o derrube e afirmou que a sua escolha não está pautada em pressão empresarial.

Outro município alvo de fiscalização foi Doverlândia, onde a prefeita é Genilva Rodrigues (Republicanos), aliada de Caiado. No dia, ela chegou a divulgar uma nota esclarecendo que a ação da PM foi comandada pelo Estado e que a prefeitura não foi comunicada. Ao POPULAR, porém, a gestora afirma que concordou com a atitude da polícia.

Ela conta que está tentando alinhar o decreto municipal ao do Estado, mas confessa que não vai conseguir aderir a tudo. Genilva também descarta viés político na ação da PM. “Sabemos das dificuldades. Aqui no município, se precisarmos de leitos, temos que enviar para outro lugar, e se não houver vagas?” Mas avalia que, apesar de não haver embate político com o governador, há um desgaste da sua imagem e da do democrata na cidade por conta desses decretos.

“É um preço que a gente paga. As pessoas não entendem que não cabe a mim dizer o que é essencial. E eu não posso me deixar levar por isso, mas pelo lado de que eu tenho uma responsabilidade com a população”, diz. A prefeita ainda acrescenta que, por conta da maior restrição do decreto estadual, no seu ponto de vista, a imagem do governador, hoje, é a mais desgastada no município. “Acham que ele está sendo um carrasco.”

No Entorno do Distrito Federal também está havendo resistência dos prefeitos para aderir ao decreto estadual, embora esse seja o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Prefeito de Novo Gama, Carlinhos do Mangão (DEM) diz que entende a preocupação do governador, mas que não quer prejudicar o comércio.

Apesar de se dizer despreocupado, confessa que essas medidas vão, sim, trazer um prejuízo político. “Eu não tenho como fechar tudo, porque aqui no Entorno metade da população trabalha em Brasília e a outra metade sobrevive do comércio, nossa região não tem indústrias, essas são as únicas fontes de renda da população.”

Ele diz que o embate com o governo sobre o decreto, portanto, está sendo inevitável. “Mas espero que o governador não pense que estamos medindo força política. Não tem desgaste nesse sentido agora.”

O prefeito de Pirenópolis, Nivaldo Melo (PP), diz que não vai dar declarações por ora. Ele, que havia feito um decreto ainda muito flexibilizado em relação ao do Estado, anunciou ontem que vai seguir as normas estaduais depois de um diálogo com o MP-GO. O órgão teria informado que faria recomendações formais para que o decreto estadual fosse seguido pelo município. A adequação, portanto, começa na segunda-feira (22).

O governador, em entrevista nesta semana, negou que tenha havido intenções políticas nos atos de fiscalização e disse que seu objetivo é salvar vidas. Antes disso, em pronunciamento, Caiado disse que não trocaria vidas por votos, demarcando uma posição menos política e mais ligada à sua figura de médico.

Escolha política

Para o cientista político Pedro Célio, apesar de haver essa análise generalizada, até a postura de aderir a medidas indicadas por cientistas no combate à Covid-19 é uma escolha política do governador.

“Política é tomada de decisão e, numa situação grave como esta, as decisões nunca terão uma recepção unânime, porque política também envolve interesses divergentes. A excepcionalidade agora é fazer com que as diferenças sejam deixadas de lado para salvar vidas. E o governador está convicto e incisivo em assumir uma coordenação centralizada em Goiás”, explica.

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