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Servidores do Samu são indiciados por omissão de socorro a pedreiro, em Goiânia

Servidores do Samu são indiciados por omissão de socorro a pedreiro, em Goiânia

access_time 7 anos ago

Um motorista e um técnico de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram indiciados nesta quarta-feira (16) por omissão de socorro ao pedreiro Lindomar Alves dos Santos, de 36 anos, em Goiânia. O homem precisou ser levado por amigos a uma unidade de saúde e acabou morrendo dias depois.

“A conclusão da Polícia Civil é de que houve omissão de socorro, independentemente se houve hostilidade naquele ambiente praticado por parte dos populares que ali se encontravam”, explicou o delegado responsável pelo caso, Jacó Machado das Chagas.

Um vídeo feito no dia 30 de julho mostra que o técnico desceu da ambulância e, logo depois, voltou para dentro do veículo sem se aproximar do pedreiro, que passava mal devido à diabetes (veja abaixo). Depois da divulgação das imagens, a Secretaria Municipal de Saúde informou que os dois funcionários envolvidos na ocorrência foram afastados das atividades e vão fazer apenas trabalhos administrativos até a conclusão da sindicância do órgão.

Os dois funcionários prestaram depoimento à Polícia Civil nesta tarde, mas não quiseram conceder entrevista à imprensa. Ao delegado, eles alegaram que deixaram o local porque foram ameaçados e aguardavam aparato policial.

“A versão deles é de quando chegaram, o técnico desceu e foi recebido por xingamentos, percebeu que era inseguro, fechou a traseira e se retiraram do local. Então, entrou em contato por telefone com o médico, parou umas quadras abaixo e solicitou apoio policial”, relatou Chagas.

Ainda de acordo com o depoimento dos funcionários, eles demoraram menos de 20 minutos da base onde estavam, no Jardim Curitiba, até o local em que Lindomar passou mal. Antes, os familiares alegaram que o socorro demorou quase uma hora.

Como houve a conclusão do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), o procedimento foi remetido ao Poder Judiciário. Agora, os funcionários do Samu devem participar de uma audiência sobre o caso.

Advogado dos servidores, Mário Rodrigues negou que os clientes omitiram socorro e informou que só dará mais explicações ao Poder Judiciário. Se condenados, os funcionários podem pegar de um a seis meses de detenção.

Para o delegado, a omissão de socorro e a morte de Lindomar são situações distintas. “A natureza do crime de omissão de socorro não necessita de resultado, se tivesse sobrevivido, seria omissão de qualquer forma”, explica.

Luta por UTI

Como a ambulância deixou o local onde Lindomar passou mal, parentes dele foram em busca da ajuda de amigos para transportá-lo até o Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Cândida de Moraes. Na madrugada do dia seguinte, 31 de julho, ele foi transferido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Curitiba.

De acordo com a família, os médicos da unidade disseram que Lindomar precisava de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Irmã do pedreiro, a funcionária pública Ivani Alves dos Santos, de 46 anos, disse que a vaga só saiu por volta das 14h30 do dia 2 de agosto, depois de ir à Defensoria Pública.

“Ele começou a ter infecção, foi paralisando o rim, passou a respirar com aparelho. Precisa de uma UTI e de um hospital com estrutura para fazer exames”, explicou Ivani ao G1.

Os parentes solicitaram novamente uma ambulância do Samu para a transferência da UPA a um hospital. Como não conseguiram o transporte depois de oito horas de espera e por medo de perder o leito de UTI, os irmãos se uniram para pagar uma ambulância particular.

Durante o traslado, Lindomar sofreu uma parada cardíaca dentro da ambulância e foi levado de volta à UPA. Quando o estabilizaram, os parentes acionaram novamente o Samu para o transporte até a unidade de saúde. Desta vez, a equipe chegou rapidamente e o levou ao hospital. Porém, Lindomar morreu horas depois.

“Quando chegou ao hospital, já era tarde demais. O médico me disse que ele chegou muito ruim e não teve o que fazer”, lamentou a irmã.

A Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia alegou, em nota, que a Central de Regulação de Vagas “buscou ininterruptamente uma vaga para o perfil clínico de Lindomar Alves dos Santos conforme a disponibilidade de leitos na rede pública de saúde”.

A mãe do pedreiro, Hilda dos Santos, pede que os responsáveis pela morte do filho sejam devidamente punidos. “Eu quero justiça para não ver outro morrendo naquela situação como eu vi o meu [filho]. Não vai trazer meu filho de volta, mas estamos fazendo isso por outras pessoas, que vão precisar de atendimento e vão cair na mesma situação que meu filho caiu. A gente não quer que isso aconteça”, desabafou a mãe.

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