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Vandalismo: Câmara e Senado estimam mais de R$ 6 milhões de danos

Vandalismo: Câmara e Senado estimam mais de R$ 6 milhões de danos

access_time 2 anos ago

O montante equivale apenas aos itens substituíveis depreciados pelos terroristas

Por: Francisco Costa

O montante equivale apenas aos itens substituíveis depreciados pelos terroristas. | Foto: Reprodução

Os prejuízos na Câmara dos Deputados e no Senado em decorrência dos vandalismos ocorridos no último domingo (8/1) superam os R$ 3 milhões em cada Casa (de itens substituíveis). O Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda realizam os levantamentos. Mais de 1,5 mil pessoas foram presas pelas ações criminosas e invasões aos três Poderes.

Segundo relatório preliminar da Câmara, o valor de R$ 3 milhões em danos consideram apenas objetos e equipamentos que podem ser repostos, como computadores, vidros, veículos e outros itens de mobiliário. Foram cerca de 400 computadores destruídos, sendo só eles mais de R$ 2 milhões.

Há, ainda, duas viaturas da Polícia Legislativa (R$ 500 mil); vidros nas fachadas e na parte interna (R$ 100 mil); além de parte do tapete Salão Verde (R$ 20 mil). Outros itens são monitores do painel de vídel wall (R$ 10 mil); TVs diversas (R$ 2 mil cada); e mobiliários diversos.

Obras de artes destruídas e roubadas ainda não tiveram os valores estimados. A Casa já detectou os seguintes itens danificados ou destruídos, conforme relatórios:

  • Dos 46 presentes protocolares expostos no Salão Verde, 6 estão desaparecidos ou irrecuperáveis. Muitos foram encontrados com danos pontuais que poderão ser restaurados;
  • Muro Escultórico, de Athos Bulcão, 1976 – perfurado na base;
  • Bailarina, de Victor Brecheret – descolada da base;
  • Escultura Maria, Maria, de Sônia Ebling, 1980 – marcada com paulada.

Senado

Relatório preliminar do Senado também indica prejuízos entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões. Segundo a diretora geral da Casa, Ilana Trombka, os anos incluem a estrutura do Senado, assim como itens do mobiliário e obras de arte depredados durante o ataque. O prazo para restauração ainda não foi definido.

Nós identificamos primeiro essa questão dos vidros, segundo a questão dos carpetes, terceiro a questão das obras de arte que foram danificadas e tem que ser recuperadas. Temos também o nosso material da polícia do Senado, que foi utilizado ontem e que precisamos repor.

Diferente da Câmara, o Senado não detalhou item por item e valores. “A gente ainda precisa fazer um diagnóstico minucioso em cada obra de arte que foi danificada, em cada bem cultural, mas um ato de vandalismo numa obra de arte deixa marcas perenes. Por melhor que seja o processo de restauração de uma obra, as marcas da agressão serão eternas”, informou a diretora.

Assim como na outra Casa, são mobiliários, obras de artes, estruturas e mais. Ilana exemplifica os gastos com uma tela do artística gaúcho Guido Mondim, que foi arrancada de uma moldura. “Infelizmente, só uma tinta de restauro daquele painel [de Athos Bulcão], um tubo de 20ml, custa quase mil reais. Então o desrespeito com a história brasileira, desrespeito mesmo com o bolso de cada cidadão que vai financiar todas essas atitudes de restauro, é lamentável.”

STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) passou por perícia na segunda-feira (9). Informou, contudo, que não há previsão de conclusão e, até o momento, não tinha divulgado o valor dos prejuízos. “Depois da perícia, o STF vai iniciar o trabalho de catalogar os estragos e quantificar os prejuízos. Também não há previsão para a conclusão deste trabalho.”

Planalto

Da mesma forma, o Planalto não informou o montante do prejuízo, mas, por nota, deu uma avaliação preliminar. “Ainda não é possível ter um levantamento minucioso de todas as pinturas, esculturas e peças de mobiliário destruídas, mas a avaliação preliminar feita pela equipe responsável aponta os seguintes estragos os seguintes estragos em peças icônicas do acervo”, e detalha:

“No andar térreo:

  • Obra ‘Bandeira do Brasil’, de Jorge Eduardo, de 1995 — a pintura, que reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao palácio e serviu de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República, foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes ali instalados.
  • Galeria dos ex-presidentes — totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e quebradas.

No 2º andar:

  • O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Planalto foi brutalmente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias. O estado de diversas obras não pôde ainda ser avaliado, pois é necessário aguardar a perícia e a limpeza dos espaços para só daí ter acesso às obras.

No 3º andar:

  • Obra ‘As mulatas’, de Di Cavalcanti — a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de diferentes tamanho. A obra é uma das mais importantes da produção de Di Cavalcanti. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças desta magnitude costumam alcançar valores até 5 vezes maior em leilões.
  • Obra ‘O Flautista’, de Bruno Giorgi — a escultura em bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliado em R$ 250 mil.
  • Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg — quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
  • Mesa de trabalho de Juscelino Kubitscheck — exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas. Avaliação do estado geral ainda será feita.
  • Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues — o móvel abriga as informações do presidente em exercício. Teve o vidro quebrado.
  • Relógio de Balthazar Martinot — o relógio de pêndulo do Século XVII foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI. Martinot era o relojoeiro de Luís XIV. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas possui a metade do tamanho da peça que foi completamente destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão.”

Segundo Rogério Carvalho, diretor de Curadoria dos Palácios Presidenciais, a maioria das obras poderá ser recuperada. Ele diz, contudo, que a restauração do Relógio de Balthazar Martinot será “muito difícil”.

“O valor do que foi destruído é incalculável por conta da história que ele representa. O conjunto do acervo é a representação de todos os presidentes que representaram o povo brasileiro durante este longo período que começa com JK. É este o seu valor histórico. Do ponto de vista artístico, o Planalto certamente reúne um dos mais importantes acervos do país, especialmente do Modernismo Brasileiro”, lamenta.

Resumo do caos em Brasília

Vale lembrar, os ataques aos Poderes, com vandalismos ao patrimônio público, ocorreram no domingo por extremistas insatisfeitos com o resultado das eleições. Bolsonaristas que não aceitam a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ocuparam rodovias e quartéis desde o fim do segundo turno.

Em resposta aos atos de terrorismo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou intervenção federal na segurança pública do DF. Ele comunicou a decisão em coletiva de imprensa e a ordem vale até 31 de janeiro.

Ainda durante os atos, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), decidiu exonerar o secretário de Segurança Pública do DF, Anderson Torres, ex-ministro do governo Jair Bolsonaro (PL). Um dia depois, Torres classificou os atos como “insanidade coletiva” e negou qualquer envolvimento ou conivência.

Na madrugada de segunda, o ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, afastou Ibaneis do cargo de gestor do DF por 90 dias, além de determinar o desmonte dos acampamentos e tomar medidas para evitar novos vandalismos. O governador afastado disse respeitar a decisão.

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